Entrevistas Moda

Adriana Barbosa: “Trabalho para mostrar o potencial da população negra”

Uma família periférica em um bairro Nobre de São Paulo. Esta é a origem de Adriana Barbosa, empreendedora é conhecida por estar à frente da Feira Preta. A residência da família foi conquistada pela avó de Adriana, que dedicou 70 anos de trabalho como empregada doméstica a uma rica família paulistana.

Por viver em um bairro nobre, Adriana não se reconhecia como afrodescendente. “Era a única negra na escola pública em que eu estudava. E fui me descobrindo nos pequenos detalhes: na festa de escola eu não recebia recadinhos e ficava sempre com a vassoura . Pensava: ‘Tem alguma coisa acontecendo’”, lembra.

Adriana conta ainda que a família sempre teve dificuldades financeiras e, por isso, avó me ensinou a ‘se virar’. “Ela fazia coxinha e eu saía para vendê-las. Aos 80 anos, ela tinha uma forma requintada de empreender. Vendíamos marmitex nas obras e, para isso, ela fazia cartões de visita e faixas”.

Reconhecimento

O processo de autoconhecimento fez com que a Adriana se conectasse cada vez mais com a cultura negra. A princípio, ela se voltou para os movimentos americanos. A seguir, ela passou a acompanhar um programa de rádio dedicado a música negra, para o qual ligava para tanto para pedir emprego que foi contratada para trabalhar na produção.

Em 2001, no entanto, ela foi demitida. Chegou a hora então de se virar, já que ela não tinha perspectiva de voltar a trabalhar com artistas. A saída? Ir para as ruas vender. “Comecei a frequentar feiras vendendo roupas na Vila Madalena, que era uma região com a presença muito grande de jovens negros”, lembra.

Surgiu o questionamento: por que não mostrar toda a potência da população negra, em vez de reproduzir a escassez? Foi assim que nasceu a Feira Preta, realizada na Praça Benedito Calixto e que contou com 40 expositores já na sua primeira edição.

Potência

O que era uma ação para empoderar, para transformar jovens empreendedores negros em protagonistas da própria história, se transformou em um grande evento. Hoje realizada no Anhembi, a Feira Preta já está na sua 15ª edição e movimenta R$ 3 milhões em negócios.

Antes negligenciado por diversos mercados – visto que há apenas cinco anos a indústria cosmética passou a oferecer opções de maquiagens para diversas tonalidades para a pele escura, o empoderamento da população negra como consumidora é um processo irreversível, como analisa Adriana. “Isso é um resultado de ações afirmativas. Antes as pessoas não se declaravam como negras”, conclui Adriana, ressaltando o potencial deste mercado.

 

Camila Bez

Jornalista especialista em contar histórias de superação. Feminista, sonha em criar um mundo mais igualitário e justo para as mulheres por meio da informação e do empoderamento econômico.

Você também vai gostar de

Posts populares

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *