Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Apesar de ser ensinada há mais de 220 anos por Antoine Lavoisier, considerado o pai da química moderna, o povo brasileiro parece não ter aprendido a lição. Isso porque, todos os anos, são produzidos aqui cerca de 63 toneladas de lixo, matéria que poderia ser reaproveitada de diversas formas.
Por isso, uma das grandes sacadas do trabalho da empreendedora Adriana Costa tem tanto valor. Há dois anos, a paulistana está à frente da Ágama, empresa que produz bolsas e acessórios com tecidos que seriam descartados. “O meu segundo maior desafio na carreira foi mostrar para as pessoas que eu não trabalho com lixo. Porque a maioria acha que eu tirei do lixo, mas não é. Na verdade estou prevenindo que o tecido vá para o lixo”, conta.
Hoteleira, Adriana trabalhava na sua área. Mas sentia-se tão estressada aos 30 anos, que imaginava que, ‘daquele jeito, nunca ia chegar aos 60’. “Estava na hora de viver de verdade. Tomei esta decisão na época da Copa do Mundo e, como sabia não ser possível, pedi um aumento ao gerente. Ele me deu R$ 50 a mais, que não dava nem para pagar meu antidepressivo. Então abri o jogo e me mandaram embora, pagando todos os meus direitos”, conta.
Caminho desconhecido
Adriana lembra que nunca pensou em empreender. Mas, desempregada, precisava ter uma renda. Então ‘foi no chute’. Para criar a Ágama, ela uniu o passado e o acaso, já que ela sempre teve contato com tecido, graças aos trabalhos da avó. “Um detalhe muito importante: na rua em que trabalhava, conheci uma funcionária de uma indústria têxtil. Um dia a vi jogando vários tecidos no lixo, de coleções passadas. Pedi a ela que guardasse aquele material para mim e até hoje ela é minha principal fornecedora.”
Outros desafios que Adriana teve de superar foram enxergar a empresa como um negócio mesmo. “E também não fiz planejamento. Conseguir entender o que era planejamento foi difícil para mim. Hoje vejo que, se tivesse antes o conhecimento que tenho hoje, a Ágama já teria crescido muito mais”, pontua.
Mais do que mudar seu estilo de vida, investir na confecção de bolsas e acessórios com tecidos que seriam descartados fez com que Adriana repensasse a própria postura. Hoje ela recicla lixo, se interessa por saber qual é o destino de roupas usadas e estuda para terceirizar sua produção – hoje desenvolvida integralmente por ela – em uma cooperativa de costureiras ou um grupo de costura solidária. “Também quero dar aulas. Já sou voluntária para as mulheres onde moro, pensando em em incentivar outras mulheres.”