Entrevistas

Amanda Banffy e os desafios de empreender como produtora teatral

O setor cultural apresenta um potencial de negócio gigantesco: além de representar até 2,6% do Produto Interno Bruto (PIB) do País, empregou formalmente quase 900 mil pessoas entre 2004 e 2013, de acordo com o Mapeamento da Indústria Criativa no Brasil.

Amanda Banffy faz parte deste contexto. Em sua atual peça, O Jovem Príncipe e a Verdade, a paulistana de 35 anos empregou 20 pessoas, das quais dez fazem parte de sua equipe e outras dez pessoas foram contratadas localmente, já que o espetáculo foi levado para o Rio de Janeiro e Recife.

No entanto, quando decidiu ser atriz ainda criança, Amanda não imaginava que a vida a levaria para a produção. “Cada passo que dei, descobri direções por onde ir. Sempre fui muito determinada com o que queria. A vida foi me mostrando que o trabalho como produtora era uma forma de conseguir realizar a minha paixão por teatro, não só como atriz convidada para um projeto em que, às vezes, não era um texto em que eu acreditava, que eu queria dizer para a sociedade. Gosto de observar o mundo ao meu redor e me posicionar”, conta ela.

Primeiro ato

Filha de mãe brasileira e pai húngaro, a empreendedora paulistana de 35 anos conta que a preocupação em ser a melhor no que faz foi herdada do pai. “Ele era muito exigente, pois achava que tínhamos de ter esta postura na vida. Ele batalhou muito no Brasil para reconstruir tudo o que ele e a família dele perderam na Hungria [em decorrência da Segunda Guerra Mundial]”, lembra.

Assim, determinada a ser atriz, ela investiu em um curso de teatro na adolescência e optou por cursar artes cênicas na Universidade de São Paulo (USP). “Pensei muito em outros cursos, mas decidi por artes cênicas. Queria muito entrar na USP e, para isso, estudei muito e consegui, fato que ninguém estava esperando, já que nunca fui uma aluna CDF”, diverte-se.

Mesmo depois de encarar, diariamente, um curso de período integral, à noite Amanda ainda tinha fôlego para ensaiar peças. “Até cheguei a trabalhar no mercado, mas não me adaptei. Sentia a necessidade de empreender e, desde o curso de teatro, eu comandava os grupos. Levava textos, marcava ensaios e, com alguns amigos da faculdade, propus um projeto nosso”, diz.

Segundo ato

Empreender, para Amanda, foi a escolha de viver totalmente em um panorama instável. Ela conta que, quando faz trabalhos publicitários, o cachê chega a pagar até quatro meses de contas. No teatro, geralmente a receita não é totalmente garantida. “Minha amiga psicóloga fala que não entende como eu vivo tranquila no risco. Sempre vivi na situação de correr atrás. Este mês pode ter dinheiro, mês que vem pode não ter. Então não gasto com bobagens. Ganho dinheiro e o guardo, me sacrifico para economizar”.

Já assumir a direção teatral, no entanto, não foi uma escolha consciente. A ideia nasceu da paixão que sentiu ao conhecer O Jovem Príncipe e a Verdade, única obra para crianças escrita por Jean-Claude Carrière, autor francês contemplado com prêmios como Oscar, Molière e César. “Decidi traduzir o texto do francês porque precisava realizar a obra, estava muito empolgada com o projeto. Por causa deste texto, aprendi como produzir, como levantar os custos, logística, montagem de cenário e produção. Aprendi a produzir até mesmo para cumprir as exigências das leis de incentivo”, revela.

O montante dos ingressos vendidos na bilheteria não paga os custos de produção – sendo os recursos para realizar a peça o maior desafio a ser superado na Banffy Produções Artísticas. Então, Amanda consegue patrocínios quando vence editais de leis de patrocínio. As últimas apresentações, realizadas no Rio de Janeiro e em Recife em janeiro, tiveram patrocínio da Caixa Cultural. Outra estratégia adotada foi contar com a crítica de jornalistas que, segundo a produtora, ajudaram o espetáculo a ter vida.

A seguir

“Se você realmente tem paixão pelo que faz, vai enfrentar os problemas que vem pela frente. Tem de ser muito persistente, porque vai ouvir muitos nãos. Também tem de investir em uma boa formação e refletir: como posso realizar? É tentativa e erro, porque bati em muitas portas e ouvi não”, aconselha Amanda para quem quer, como ela, ter seu próprio negócio.

Mas quais são as próximas cenas da jovem empreendedora? Amanda conta que vai continuar promovendo O Jovem Príncipe e a Verdade e também está investindo em um canal de contos infantis no Youtube. “Percebo que a internet é uma forma de trazer o público pra o teatro. Tem um monte de youtubers lotando as apresentações”, indica. “Meu sonho é ser livre, viver a vida fazendo o que eu gosto, para que possa trabalhar fazendo o que realmente acredito”.

Camila Bez

Jornalista especialista em contar histórias de superação. Feminista, sonha em criar um mundo mais igualitário e justo para as mulheres por meio da informação e do empoderamento econômico.

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