Beleza Entrevistas

Como transformar críticas em um negócio milionário? Amanda Djehdian ensina

Ao digitar Amanda Djehdian na busca do Google, a ferramenta já completa a pesquisa com olheiras. E um dos principais resultados desta pesquisa é a pergunta: “o que Amanda Djehdian fez para as olheiras?”. Afinal, a empresária paulistana de 36 anos ficou nacionalmente conhecida pela zona escura que tinha ao redor dos olhos.

Para quem não se lembra, Amanda foi vice-campeã do BBB em 2015. Porém, ao contrário de muitos participantes que caíram no esquecimento, ela marcou o País por “se parecer com um panda”.

No entanto, em vez de se deixar abalar pelas críticas, Amanda fez do limão uma limonada. Hoje, ela é dona da própria marca de produtos para os olhos e já faturou mais de R$ 2 milhões desde o lançamento da marca, em setembro de 2020.

Criar oportunidades 

Determinação é a palavra que melhor descreve a paulistana, tendo em vista que ela sempre conseguiu conquistar tudo o que quis por meio de muito trabalho e estratégia.  “Não podia ouvir um não. Para mim, o não não é possível”, conta ela.  

Neta de armênios, que migraram para o Brasil em 1920 fugidos da guerra contra a Turquia, Amanda conta que o excesso de pigmentação nos olhos vem da descendência asiática com a mistura genética da mãe, negra. “As olheiras são um orgulho para mim. Talvez se não as tivesse, não poderia trazer tanta autoestima para as mulheres.”

Graças à influência da cultura armênia, a empresária conta que sempre teve inclinação para os negócios. “Nasci dentro de lojas”, brinca. E o maior ensinamento que recebeu na infância foi ter a iniciativa de criar oportunidades. “Meu pai ensinava que, para ter dinheiro, eu tinha de fazer alguma coisa. Ele também dizia que se [algo] estivesse ruim, que eu fizesse ser bom.”

Por isso, desde pequena, ela aprendeu a dar valor ao dinheiro. Fazia massagens espontaneamente e, em seguida, dizia que a pessoa tinha de pagá-la. “Queria que as pessoas comprassem de mim. Quando queria um tênis de R$ 100, meu pai me fazia trabalhar. Algumas vezes, depois de levantar o dinheiro, eu nem queria mais o tênis, pois preferia guardar o dinheiro.”

Crédito: divulgação

Herdeira? Só que não 

Foi criando oportunidades que a família de imigrantes se consolidou no Brasil. Amanda lembra que o patriarca criou a 99, loja de calçados, após a era Collor, quando muitas empresas estavam quebrando e a inflação era de 84% ao mês.  “Ele teve três lojas, quebrou, mas depois foi um sucesso. Via os caminhões chegarem nas lojas para abastecê-las.”

Com o falecimento do pai em 2016, Amanda assumiu os negócios da família. No entanto, mesmo cursando faculdade e com experiência em ajudar em algumas funções da loja, a paulistana foi desacreditada por funcionários e fornecedores da 99 Calçados. “As pessoas achavam que, por eu ter recebido a empresa, não sabia nada”, lembra. 

Já em 2014, Amanda participou do processo seletivo para participar do BBB. Aprovada, a empresa ficou sob responsabilidade da mãe. Mesmo sabendo da expertise da matriarca, ela demonstrou preocupação com o desempenho da loja ao longo do programa.

Mas a exposição em rede nacional gerou tantas oportunidades para a empresária que, em 2018, ela decidiu vender a 99. “A empresa tinha um apelo emocional, mas era um sonho do meu pai, não o meu. Além de faturar com publicidade, a loja passou a empatar [as receitas e vendas]”, continua.

Crédito: BBB

Construindo a própria auto estima 

Amanda conta ainda que as olheiras foram alvo de críticas desde que ela tinha 15 anos. “Danifiquei muito a minha área dos olhos. Usei creme de catálogo, ácido, laser, carboxiterapia (injeção de gás carbônico), blefaroplastia (retirada do excesso de pele das pálpebras). Já tinha feito uma série de tratamentos quando, em 2012, decidi que não mexeria mais.” 

Aos 25 anos, ela já se sentia bem resolvida em relação às olheiras, disfarçando-as apenas com maquiagem. No entanto, uma semana antes de entrar no BBB, ela fez botox e foi convencida injetar ácido hialurônico, o que piorou a pigmentação e criou bolsas ao redor dos olhos. “Quando os participantes eram eliminados, todo mundo perguntava sobre as minhas olheiras. ‘Como assim?’, eles respondiam. É que na convivência, as olheiras pareciam normais. Mas na TV, elas pareciam ser muito piores.” 

Apesar das críticas, Amanda conta que não se deixou abalar. “Já que sou isso, o que posso fazer para me deixar em evidência? Foi aí que eu tive a ideia de ser madrinha da Casa Hope, que tem como o logotipo um panda”, acrescenta. 

O que a abalou mesmo foram os comentários feitos sobre as suas pernas, pois as pessoas as associavam à elefantíase por serem grossas. “Demorou seis meses e muita terapia para os comentários não me afetarem mais”, pontua.

Crédito: divulgação

Uma nova oportunidade 

Amanda conta que o pós programa lhe rendeu bons frutos, pois tudo o que ela colocava para vender, vendia. Além de aproveitar o máximo de oportunidades possível, ela percebeu que ganhava mais dinheiro com publicidade do que com as lojas – o que culminou na decisão de vendê-las.

Desde que saiu do programa, porém, ela não ficava satisfeita com os resultados dos produtos que testava, tanto que chegou a negar diversos trabalhos. Então, ela decidiu criar a própria marca de cosméticos para olheiras.

Depois de um breve período sabático em 2019, ela fez um projeto e o apresentou à farmácias de manipulação. Uma delas topou integrar o negócio e, após a aprovação do projeto, os produtos da New Eyes demoraram meses para ficarem prontos, já que a fórmula apresentava ativos com concentrações mais altas em comparação aos demais produtos de mercado. 

Apesar de não ter capacitação específica em cosméticos, que são desenvolvidos por uma farmacêutica, Amanda conta que participa de todos os processos da empresa, desde a pesquisa até o pós-venda. “Faço muita questão do pós-atendimento para saber como foi a experiência da cliente”, diz.

E foi a fórmula de produtos manipulados e personalizados somado ao bom atendimento que ela já faturou mais de R$ 2 milhões apenas no primeiro ano de atividade da empresa. “Em 2020, tivemos uma proposta de investimento na empresa muito tentadora para escalonagem grande. Mas se eu desse aquele passo, perderia a qualidade do produto. Prefiro crescer com uma base sólida do que sair desesperada [pelo crescimento], ainda que o dinheiro seja tentador”, conclui.

Agora, o próximo passo da New Eyes é aumentar a linha de produtos self-care, mas os produtos para olheiras continuarão no posto de carro chefe da empresa.

Camila Bez

Jornalista especialista em contar histórias de superação. Feminista, sonha em criar um mundo mais igualitário e justo para as mulheres por meio da informação e do empoderamento econômico.

Você também vai gostar de

Posts populares