Entrevistas

Ciência na Psicologia: Camila Krauspenhar mostra como aumentar resultados positivos na saúde mental

Desde 2016, o número de crianças vacinadas contra a poliomielite não supera a marca de 95%, índice que cai ano após ano, tendo em vista o surgimento dos chamados “antivacinas”, pessoas majoritariamente entre 25 e 34 anos que refutam a importância da ciência não só na área da saúde, mas também em outras temáticas. 

Mais um exemplo da negação da ciência: o terraplanismo, em que pessoas do mundo todo acreditam que a terra é plana. Algumas pessoas até tentaram provar esta (estapafúrdia) teoria, com expedições náuticas à borda da terra ou viagens ao espaço. 

Infelizmente, vivemos um momento chamado pós-verdade, em que as pessoas acreditam somente no que querem (ou no que convém) e ainda se encontram em grupos que ganham força na internet, usados como máquinas de compartilhamento de fake news.

Por isso, o trabalho de Camila Krauspenhar é tão relevante. Psicóloga que defende a psicologia baseada em evidências, ela trabalha na capacitação de outros profissionais, a fim de ajudar a área a evoluir como um todo e que os terapeutas possam oferecer tratamentos cada vez mais assertivos e de bons resultados. 

Gaúcha matogrossense 

Camila Krauspenhar nasceu no Rio Grande do Sul e se descreve como esposa e mãe de gente e de pet. Mora desde 2000 no Mato Grosso e empreende desde o último ano de faculdade. 

A empreendedora de 32 anos conta que desde sempre teve interesse em trabalhar com pessoas, vontade essa que deve ter surgido de costumes tradicionais do seu estado de origem. “No sul, temos o costume de sentar em rodas de tomar chimarrão. Então, eu era sempre a criança que estava no meio da roda, contava muita piada, gostava de chamar atenção. Não podia ver um palco que eu queria subir. Acho que isso me ajuda muito na questão do empreender”, diverte-se.

Mais que a aptidão para lidar com pessoas, Camila sempre teve também vocação para as vendas. Aos 12, ajudava a mãe a vender cosméticos de catálogo, por exemplo. “Desde muito novinha já empreendia e, como muitas mulheres, comecei a empreender sozinha, meio sem saber o que fazer, e no caminho fui me encontrando.”

Além do divã

A psicóloga conta que atende na sua própria clínica desde 2012. Mas uma mudança de rumo surgiu em 2015, quando ela conheceu um psicólogo cientista em um podcast. 

Já em 2018, Camila recebeu o convite para ser professora de psicologia em uma universidade privada, inicialmente em outros cursos de graduação que contam com a disciplina na grade. “Quando abriu o curso próprio de Psicologia na universidade, além de abraçar o desafio de consolidá-lo, percebi que existia uma grande lacuna na formação dos alunos, que não conseguem ter uma avaliação crítica sobre as coisas que ouvimos por aí.”

Assim, Camila passou a se dedicar cada vez mais à Psicologia baseada em Evidências, em que ela estuda a área para compartilhar melhores práticas com os colegas de profissão. 

Uma das questões criticadas por Camila é a romantização da terapia. “Na faculdade, somos ensinados que basta fazer terapia para ficar tudo lindo. Em nenhum momento somos ensinados a pensar criticamente. Toda intervenção que fazemos na área da saúde tem potencial para fazer mal. Não existe nenhum método terapêutico que tenha 100% de eficácia, que vai atender a todos os pacientes”, observa.

Outro ponto que deve ter cada dia mais cuidado é a adoção de soluções prontas para os clientes. “O problema está na abordagem. Vou escolher aquele método e vou tratar todos os meus pacientes com ele. Na verdade, a escolha deveria ser a partir do indivíduo. Ele chega, vemos qual é a necessidade dele e vamos ver na mala de ferramentas o que vou usar naquela pessoa e não escolher a ferramenta primeiro e adequar a ferramenta ao paciente”, completa Camila.

Boas intenções

A psicóloga especialista em psicologia baseada em evidências observa ainda que, no senso comum dos colegas de profissão, existe a crença de que as boas intenções surtirão resultados positivos no paciente. “Cada vez que um paciente é exposto a tratamentos sem comprovação científica, reconhecidamente ineficazes, inseguros e errôneos, estamos oportunizando que a atual condição dele piore”, finaliza.

Camila Bez

Jornalista especialista em contar histórias de superação. Feminista, sonha em criar um mundo mais igualitário e justo para as mulheres por meio da informação e do empoderamento econômico.

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