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Ariane Santos mostra como um negócio pode empoderar mulheres em vulnerabilidade social

Todas nós, em algum momento da vida, passamos por uma situação delicada, que pode resultar do desemprego, instabilidade financeira, abandono do parceiro (ou parceira), doença, problemas emocionais, perda de um ente querido, entre tantas outras opções. Mas há vários ditados e frases motivacionais que dizem que o que importa é como reagimos às adversidades. E Ariane Santos não só deu a volta por cima, como também está ajudando a empoderar mulheres em vulnerabilidade social por meio de seu negócio, a Badu Design.

Depois de trabalhar em várias empresas, no setor público e instituições financeiras, a curitibana formada em administração decidiu largar o emprego para cuidar da avó. “Com a morte dela, fiquei depressiva e sem dinheiro”, lembra ela.

O que fazer nesta situação? Ariane então se lembrou da época da universidade, em que ela fazia os próprios cadernos, pois não queria um caderno “cheio de fru frus”. “Encapava os cadernos com tecido e o pessoal da faculdade gostou. Por isso, passei a presentear as pessoas com a minha arte. Então, como só tinha R$ 30, comprei material para produzir 10 agendas. Foi assim que nasceu a Badu Design.”

Com sua primeira leva de produtos prontos, Ariane foi a uma papelaria, em que deixou os cadernos disponíveis para a venda consignada (em que o empresário só paga o fornecedor se vender os produtos. Caso não os venda, são devolvidos ao fornecedor). A proprietária da papelaria adorou os cadernos e, poucos dias depois, a empreendedora iniciante recebeu o dinheiro das vendas e um novo pedido. “Então comecei a replicar a produção e estruturar a empresa. Para mim este início foi bem traumático, porque não tinha capital. Ia atrás de parcerias e tudo, mas ‘não tinha braço’ para produzir e para crescer”, lembra.

Comércio justo

Entre as buscas para estruturar a Badu, Ariane encontrou o modelo de negócio social, que tem como objetivo ser uma empresa que dê lucros, mas que tenha como propósito resolver um problema da comunidade. Assim, ela aumentou a produção dos cadernos com três produtoras, que recebiam todos os materiais necessários para a customização do produto e vendiam seu trabalho para Ariane por um preço justo.

Ariane também investiu em um workshop para a produção de souvenirs voltados para a Copa do Mundo, momento em que conseguiu emplacar os cadernos e a demanda, mais uma vez, aumentou. “Foi aí que pensei em envolver arteterapia e ajudar outras mulheres”, conta.

De três, Ariane passou a trabalhar com dez mulheres, parte delas mães de crianças autistas. “Quando você cresce muito rápido, tem de se estruturar na mesma medida. Por isso tive de parar para repensar o negócio, pois como eu não tinha dinheiro para fornecer todos os materiais às mulheres, estava tornando o negócio insustentável.”

Saídas

 A fim de reverter a situação controversa da empresa, Ariane buscou mais conhecimento e agora trabalha para transformar o modelo de negócio em uma franquia, em que todas as produtoras também invistam no negócio de acordo com sua capacidade de pagamento e, assim, será possível criar um fundo que garanta a sustentabilidade da Badu Design.

Ariane fez parcerias ainda com empresas da indústria têxtil, que precisam descartar corretamente os resíduos sólidos. As companhias doam o material para a Badu, que é distribuído entre as produtoras. Além de doar os insumos, as empresas até compram o produto final para ações de marketing ou mesmo para uso interno. Forma-se então uma economia circular, em que a empresa deixa de pagar excedente pela produção de resíduos sólidos, os tecidos não são descartados incorretamente no meio ambiente e a produção dos cadernos gera renda para mais e mais mulheres.

A empreendedora social agora está estruturando o projeto piloto do modelo de franquias em Curitiba e região metropolitana, a fim validá-lo. Uma vez aprovado, ela vai levá-lo para outras regiões onde já identificou demanda. “Mas nesta nova configuração, as mulheres não serão só produtoras. Vamos trabalhar também para que elas se tornem empreendedoras”, comemora.

E quais são os próximos passos da Badu, Ariane? “Meu sonho é ver as pessoas se reconhecendo, empoderadas. Pessoas que queiram crescer juntas. Criar uma sociedade que compartilhe mais e em que a gente consiga diminuir a pobreza. Queremos mostrar que todas são empreendedoras. E também queremos que os nossos produtos contem histórias de mulheres que têm perfis diferentes e que geram renda para estarem mais próximas à família”, finaliza a empreendedora social, que hoje já soma mais de 50 mulheres em sua rede de produção.

Camila Bez

Jornalista especialista em contar histórias de superação. Feminista, sonha em criar um mundo mais igualitário e justo para as mulheres por meio da informação e do empoderamento econômico.

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1 Comment

  1. Ótimo site!
    Desejo-lhes sucesso.

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