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Gata Crioulla: mais do que empreender, o trabalho de Mercê Souza para valorizar a beleza afro

Empoderamento é a palavra da vez. Vivemos um período, que talvez possa até ser chamado de “Primavera (das Mulheres, dos Negros, dos Homossexuais e etc.)”, ímpar, já que diversos paradigmas estão sendo quebrados, a fim de que possamos construir uma sociedade mais igualitária e exclusiva.

Este é um dos pilares principais da Gata Crioulla, grife idealizada por Mercê Souza. “O meu trabalho é para todos, mas enquanto eu puder protagonizar a mulher negra, ela será protagonizada. Foi a partir da minha transformação que eu quis ajudar outras pessoas. Aí nasceu a Gata Crioulla, para que as mulheres se vissem bonitas, para trabalhar a autoestima delas”, define.

Nascida em Porto Alegre, Mercê perdeu os pais ainda aos três anos e, adotada por uma família branca, teve de lidar com o racismo desde a infância. “Pensava ser inferior por ser negra, porque ouvia isso na escola. O racismo veio nas pequenas coisas do dia a dia, foi me podando, modificou a minha essência”, comenta.

Ainda aos 18 anos, Mercê saiu de casa e logo se casou. Mas como o primeiro casamento não deu certo, ela reuniu então forças para recomeçar. “Saí de casa com um filho na mão e uma bolsa na outra aos 27. Foi aí que comecei a me enxergar e me reconhecer – processo que foi bastante estimulado pelo meu segundo marido. Então me envolvi com o movimento negro, reconheci a minha essência e passei a conversar com mulheres que me mostraram tudo o que tinha de bonito em mim, que nem eu sabia que tinha”, lembra. Uma destas referências foi a blogueira Bella Silva, que além de estimular a beleza afro, é grande defensora do amor próprio.

A gravidez do segundo filho também foi um fator predominante para que ela abraçasse de vez o empreendedorismo, pois Mercê queria ter tempo e flexibilidade para se dedicar à família. Agora a empreendedora tem um ateliê em casa, em que o atendimento é realizado com hora marcada. Lá, ela produz brincos, colares, turbantes e laços de forma manual, artesanal e exclusiva, pensadas sempre para valorizar a beleza, a cor, os cabelos crespos e toda a singularidade da mulher negra.

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Uma das dificuldades iniciais da consolidação do Gata Crioulla, que foi fundada em 2015, é fazer com que mais pessoas conheçam o negócio. “Como eu não tenho loja física, encontro dificuldade para vender o meu produto. Parece que as pessoas só acreditam no produto quando ele está bombando na TV e na internet. Hoje estou conquistando público, mas foi difícil conquistá-lo”.

Promover o Chá da Gata também é uma forma de aproximar o público de seus produtos, encontro em que, além de apresentar os novos produtos, as participantes trocam ideias e assistem a palestras sobre a saúde feminina.

Mas a principal  aposta do negócio da Mercê são os valores. Mais do que promover a beleza individual de suas clientes, ela quer espalhar mensagens de amor e gratidão. “Cada cliente que compra o produto leva uma história, leva um carinho, leva um olho no olho. Se você vai comprar o meu produto, merece ganhar algo. Procuro sempre passar uma mensagem por meio do que eu faço, pois tudo que queremos, conseguiremos se formos atrás. Quero levar a mensagem de que podemos sempre nos ajudar. Este é o meu diferencial”, conclui.

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Camila Bez

Jornalista especialista em contar histórias de superação. Feminista, sonha em criar um mundo mais igualitário e justo para as mulheres por meio da informação e do empoderamento econômico.

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