Livia Vasconcellos, da Lojunha da Lívia
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24 anos, três empresas e faturamento milionário: conheça a Lívia Vasconcellos, da Lojinha da Lívia

Uma das principais características de Lívia Vasconcellos é gostar de ter o próprio dinheiro. Ainda criança, ela vendia tudo o que encontrava sem uso em casa, mesmo que não fossem pertences dela, como tênis do irmão e camisas do pai. Foi assim que nasceu, despretenciosamente, a Lojinha da Lívia, hoje uma empresa especializada em produtos premium de papelaria.

Por mês, Lívia vende mais de dez mil produtos no e-commerce, o que já lhe garante um faturamento milionário. Mas ela também tem outras duas empresas: a de cursos on-line, para atender a demanda de pessoas que queriam aprender a empreender com papelaria, e as linhas próprias de produtos, que criou em parceria com fornecedores com quem ela já trabalhava.

A grande sacada de Lívia para que ela chegasse neste patamar ainda tão jovem foi estar atenta às oportunidades. Afinal, todas as empresas surgiram de forma inesperada.

Paixão por papelaria

Além de adorar fazer um dinheiro extra coma venda de coisas paradas em casa, Lívia também sempre se dedicou bastante aos estudos. Afinal, os pais incentivavam que ela e o irmão tirassem boas notas e aquele que tivesse o melhor desempenho escolar receberia valores a mais para encher os cofrinhos.

Lívia também se descreve como ‘dodói’ (pessoa que tem paixão por algo) por papelaria, tanto que era a aluna que tinha recebia elogios dos professores por ter letra e cadernos bonitos.

“Sempre gostei de comprar material escolar. Comprava material em dezembro, porque eu queria antes do Natal ter tudo pronto. De presente de aniversário, eu pedia papelaria, pedia caneta, caderno. Era o que eu gostava”, conta.

Crédito: Divulgação

Redes sociais

Entre 2015 e 2016, a jovem de Vila Velha, no Espírito Santo, decidiu criar uma conta no Instagram para mostrar seus estudos. O objetivo, além de compartilhar dicas para quem queria cursar Direito em uma universidade federal, também foi participar de um concurso.

“Não tinha nada no meu perfil, era só o canto de estudos. Mas as pessoas começaram a perguntar o que era aquilo, de quem era o estojo. Então, eu sabia que tinha uma demanda”, continua a jovem empresária.

Já com 18 anos, ela ganhou um importante presente do pai: uma viagem aos Estados Unidos e mil dólares para gastar. No entanto, a condição imposta pelo pai era que Lívia até podia comprar o que quisesse com o dinheiro, desde que o devolvesse ao pai depois. “Comprei tudo em papelaria. Comecei a postar no meu Instagram, que na época tinha quatro mil seguidores e era muita coisa.”

Empresa familiar

Foi assim que surgiu, agora pra valer, a Lojinha da Lívia. Ainda durante a viagem ao exterior, a jovem criou um site para vender os produtos e começou a cadastrar alguns itens.

Já o pai, diretor financeiro experiente, porém desempregado, ajudou a construir planilhas e ensinar a filha a calcular preços. “Só que naquela época eu não tinha maturidade para ver que aquilo era um negócio”, emenda.

Sócios, o próximo passo de pai e filha era buscar bons fornecedores e distribuidores de produtos, tendo em vista que não seria possível viajar aos Estados Unidos para reabastecer os estoques. “Tínhamos de achar um jeito de fazer dar certo aqui.”

Início lento

Sem grande capital de giro para investir em catálogos de produtos e estoques, Lívia tinha de ser certeira. “Quando não tem muito caixa, a gente demora demais para fazer uma reposição, perde o timing, não tem muito volume, e eu só conseguia repor alguns produtos depois de dois meses. O negócio crescia devagar porque não tinha muita concorrência. Mas eu, enquanto amante de papelaria, conseguia criar conteúdo com base no que as pessoas curtiam”, lembra.

A empreendedora lembra ainda que, no começo da Lojinha, tinha dias e até semanas em que nada era vendido. Porém, como a empresa funcionava em casa, os custos eram baixos e não era necessário tanto caixa para investimento. Até porque na época, tudo que entrava era lucro.

Responsável especialmente pela curadoria dos produtos e produçaõ de conteúdo para impulsionar as vendas, Lívia conseguiu atingir o objetivo de cursar Direito em uma universidade pública e não se dedicava exclusivamente à empresa familiar.

Foco total

Mas já no segundo semestre da graduação a jovem percebeu que não tinha tanta identificação com a área jurídica como ela imaginava. Largou a faculdade e passou a focar apenas o negócio, estratégia que deu certo. “Dobramos o faturamento no mês seguinte”, conta ela.

A partir do terceiro ano de empresa, trabalhar apenas em família já não era o suficiente. Eles precisaram contratar uma pessoa para ajudá-los e perceberam a evolução da empresa. Hoje, a Lojinha da Lívia soma 50 colaboradores.

Outro grande salto que a loja virtual teve foi consequência da pandemia. “A gente estava pronto, com o site pronto, tudo rodando, estoque. Naquela época, não tinha quase ninguém no on-line de papelaria. Eu fazia vídeo e viralizava, porque as pessoas estavam em casa à toa. E aí a gente foi construindo mais ainda a marca.”

Lívia também investiu em tecnologia. Entre elas, apostou na Tiny by Olist, uma ferramenta de sistema de gestão integrada.

Do on para o offline

Ainda na pandemia, Lívia teve suas primeiras experiências presenciais. Para atender a demanda de pessoas no entorno, ela mesma fazia as entregas dos produtos vendidos para vizinhos direto na porta deles.

Já a ideia de investir em lojas físicas também foi natural. A fim de gerar vendas na internet, Lívia cadastrou a Lojinha da Lívia no Google Meu Negócio. Alguns clientes viam o endereço do estoque, na época, e tomaram a liberdade de ir até o espaço para fazer compras.

“Começou a tocar o interfone no depósito. eu nao tinha nada. O cliente dizia que vinha de outra cidade para conhecer a Lojinha da Lívia. Era o pai com uma menininha, e ela ficou completamente encantada, apesar de a loja estar completamente zoneada, pois era um estoque.”

Lívia Vasconcellos
Crédito: Divulgação

Desafios

Lívia conta que ser uma das pessoas a frente da empresa tem diversos obstáculos. Um deles é a adaptação que ela tem de fazer junto com a evolução da empresa. Por exemplo: ela nunca imaginou que teria clientes e demanda de produtos para homens.

Ela também não pode se deixar abater pelas adversidades. “No começo, quando eu ficava chateada, meu pai dizia que a chateação tinha de ser passageira. ‘Você está chateada, mas são 30 famílias, são 50 famílias agora [cujo sustento depende da empresa]. Então, a chateação nao durava muito tempo”, confidencia.

Por ser muito jovem, em alguns momentos Lívia também ficava chateada por “ver as amigas se divertindo e ela trabalhando igual uma doida”. “Mas depois eu entendi que nem gosto de curtir, gosto de ficar em casa”, comenta.

Nicho

Mas o que faz uma empresa voltada ao segmento de papelaria ser tão lucrativo? Este é um dos principais questionamentos que a jovem empresária recebe quando vai a eventos de networking e capacitação.

O que explica o sucesso da Lojinha da Lívia é o nicho. A loja virtual não é uma papelaria que vende produtos baratos. É uma empresa premium, em que a qualidade importa. “Hoje a caneta que eu vendo mais é a preta. É uma caneta gel, que é a minha favorita. Tudo o que eu falo que gosto vende muito. Então, tenho de ter cuidado e eu não posso indicar qualquer coisa. É retrátil, grifin emborrachado, custa R$ 8. Vendo 10 mil canetas dela por mês.”

Aliás, o conteúdo que ela faz é capaz de despertar o desejo das pessoas, impulsionando não só as vendas, mas também novas unidades de negócio.

Cursos e produtos próprios

No perfil da Lojinha da Lívia no Instagram é possível acompanhar os bastidores do negócio, como os familiares que trabalham na empresa, o cachorro de estimação da jovem e também o que dava certo e errado na empresa – conteúdo que gerou uma nova demanda.

“Como aprendi tudo sozinha na época, não tinha um curso sobre gestão de papelaria que sintetizasse a importância de trabalhar com nichos. Não posso trabalhar com caneta da China e caneta de R$ 15. Comecei a explicar isso na Internet, tinha muita gente comentando, então veio a ideia de gravar um curso.”

Além dos 10 mil alunos do curso on-line, Lívia lançou ainda uma linha de blocos para fichário, a fim de atender os clientes que compram canetas em gel.

Crédito: Divulgação

Próximos passos

Grávida, o sonho de Lívia agora é fazer a Lojinha crescer de tal forma que caminhe sozinha e ela possa se dedicar à família. “Quero ter liberdade de chegar mais tarde, trabalhar meio expediente. Por isso que a gente trabalha para construir a empresa: para que ela funcione sem a gente.”

Camila Bez

Jornalista especialista em contar histórias de superação. Feminista, sonha em criar um mundo mais igualitário e justo para as mulheres por meio da informação e do empoderamento econômico.

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