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Viver de artesanato: é possível?

Olá, querida artesã, tudo ótimo? Eu sou Raquel Queiroz, artesã há 20 anos e proprietária da Quel Arteira Produções Artesanais. É um prazer fazer parte deste trabalho tão essencial e sério que é a Voa, Maria! A partir desta semana serei sua mais nova referência sobre Artesanato. Tenho inúmeros assuntos e aspectos para compartilhar. Espero que os mesmos causem excelentes momentos de reflexão, inspiração, motivação e que agreguem ainda mais conhecimentos às praticantes e empreendedoras desse ofício tão nobre, versátil e, por que não, rentável que é o artesanato.

E para debutar aqui na coluna, escolhi a pergunta que não quer calar: é possível viver de artesanato? Asseguro-lhe que sim, é muito possível.

Para demover você, isso, você mesma que está balançando a cabeça negativamente e pensando: “Já sei, por experiência própria, que não”, vamos abordar a seguinte “espinha dorsal” do empreender com artesanato: oito passos, constantes de um plano de ação, para assegurar que seu negócio seja sólido e próspero. Objetivo, o quê, quando, por que, como, onde, quem e quanto são as perguntas que, a partir de agora, lhe ajudarei a responder. Este é o início do seu sucesso. Preparada? Então vamos lá:

1 – Objetivo. Qual é o seu objetivo ao escolher o artesanato como meio de sobrevivência?

Querida artesã, você precisa ter muito claro seu objetivo ao decidir viver de artesanato. É ter reconhecimento profissional? É ter qualidade de vida? É aumentar minha renda com relação à minha renda anterior em outro ofício? É ter a mesma renda, mas trabalhando no que realmente gosto? É ajudar pessoas e/ou fazer um trabalho social, não importando tanto meus rendimentos?

É preciso que saiba e, principalmente, defina seu objetivo porque, sem uma meta a atingir ou um objetivo a alcançar, dificilmente você se satisfará com os resultados de sua atividade. Essa insatisfação generalizada, essa sensação de nunca conseguir o que quer ou precisa, não é culpa do ofício de artesã e, sim, falta de objetivo, foco e organização, na grande maioria das vezes.

2 – O quê? Esse questionamento parece bobo, mas se você se questionar vai perceber que, muitas vezes, na verdade, você não sabe realmente o que é ou será o seu negócio.

Defina, antes de mais nada, o que é a sua empresa: é uma loja física? Uma virtual? Só consignados em lojas de outrem? Periódica, apenas em eventos, bazares e afins? O “boca a boca” é mais a cara do seu negócio?

Tenha em mente que você depende dessa definição para programar, organizar e praticar toda a sua estratégia de marketing e vendas. Cada tipo de negócio requer meios diferentes de comercializá-los e disso depende o sucesso do seu empreendimento.

3 – Quando? Esta questão, também de suma importância, visa definir prazos para cada etapa a ser vencida ou alcançada para atingir o seu objetivo maior, traçado lá no início, lembra?

Se você não coloca datas e prazos para serem realizadas as etapas para o funcionamento do seu empreendimento, você muito provavelmente vai ficar procrastinando as ações para viabilizá-lo. Nosso cérebro “adora” essa incerteza do “um dia, quem sabe”. Relaxa que é uma beleza. Porém, quando você tem uma data definida para cada passo que você precisa tomar para seu empreendimento tornar-se realidade, seu cérebro sentirá a pressão e você vai realizar o necessário para pular o mais breve possível para o próximo passo, para “se livrar” daquela “pendência”, que nada mais é que mais um degrau rumo ao seu objetivo maior.

4 – Por quê? Aqui estamos falando de propósito de vida.

Muitas vezes colocamos certos objetivos e metas em nossas cabeças por conveniência ou por influência de terceiros, amigos ou familiares, ou porque almejamos a trajetória, o status ou até a renda de algumas pessoas que nos cercam. Contudo, é crucial que ache a sua própria verdade, sua real motivação, o casamento ideal com seus valores, que variam de pessoa para pessoa.

Quantas pessoas você conhece que trabalharam arduamente para abrir seu próprio negócio ou para mudar de profissão e que, ao conseguirem, se viram frustrados, sem motivação e fadados ao fracasso e à falência? Isso se deve à falta de alinhamento com o propósito de vida. O que eu quero fazer o resto da minha vida, o que me faz feliz e realizada, realmente casa com o tipo de negócio que estou planejando abrir?

5 – Como? “Eita” perguntinha difícil né? Muitas pessoas emperram seus projetos nela. Acham difícil porque enxergam seus sonhos muito grandes e/ou muito distantes do momento presente e de si mesmo. Mas calma.

Para responder a esse questionamento em seu plano de ação, recomendo essencialmente que seja honesta consigo mesma. Seja realista, inclusive. Se lhe falta capacitação, planeje esse passo colocando datas, valores, de onde sairá o custo dessa capacitação, quanto tempo disporá para capacitar-se, etc. Da mesma maneira com relação à administração: eu sei empreender? Do que preciso para abrir, formalmente, o meu negócio? Possuo o necessário para tal? Quanto me custará, em tempo e valores? E da mesma maneira sobre a aquisição de um espaço físico, por exemplo, ou sobre a participação em algum evento. Planeje, cumpra prazos, seja disciplinada e focada que, assim, passará por esse passo com o alicerce necessário para o futuro.

6 – Onde? Esse passo, ao contrário do anterior, parece fácil, não é mesmo? Mas não é tão simples assim e pode custar todo o seu empenho.

O onde compreende o seu raio de ação. Consiste em descobrir onde está o seu público alvo. Logo, o seu “onde?” será onde residem seus clientes em potencial. “Ah, mas vou vender pela internet…”, você pode pensar. Contudo, se você não sabe em quais grupos virtuais, redes ou página anunciar para atingir sua clientela, seu trabalho estará perdido. Por exemplo: você comercializa bonecas japonesas, feitas artesanalmente. Se você anunciar em um grupo simpatizante da cultura oriental e afins você venderá muito mais do que se anunciar num grupo de vendas online aleatório. Você pode pensar: mas no grupo de vendas online tem milhões de pessoas e o grupo de cultura oriental não. Porém, o grupo com menos pessoas é feito integralmente por clientes em potencial e o outro não. O seu público alvo pode ser restrito, mas se você vender para todos fará mais sucesso do que num grupo onde seu produto não faça sentido algum e nem cause nenhuma identificação.

7 – Quem? Aqui está o momento de decidir se será um empreendimento individual ou com sócios, colaboradores, parceiros, uma ong ou cooperativa.

Preveja o tamanho do seu empreendimento, o que irá oferecer e seja realista se irá precisar de mão-de-obra extra ou se dará conta de tudo sozinha. Posto isso, já defina as pessoas com quem poderá contar, os parceiros, se a família vai cooperar ou não. E, se sim, defina de antemão o papel de cada um dentro da sua empresa.

E agora, por último e não menos importante, o oitavo passo:

8 – Quanto? Aposto que você já estava se perguntando sobre essa parte tão importante. Contudo, para defini-la você precisa estar com todas as demais muito bem pensadas, alinhadas, com prazos e metas. Porque o quanto vai custar depende totalmente do perfil desenhado por ti para sua empresa até aqui.

Reveja seu plano de ação e pondere sobre o custo que cada um dos itens que essa “espinha dorsal” requer. Logo, fundamental é que seja feito tudo de maneira bem detalhista, cuidadosa e que, principalmente, se alinhe às suas expectativas quanto ao seu próprio negócio.

Há duas maneiras de descobrir o quanto seu negócio lhe custará: a primeira é pegar a sua renda mensal (todas as que dispuser para aplicar em seu projeto) e dividi-la pelo número de meses que você terá quando decidiu as datas e prazos para abertura do seu negócio, resultando assim no custo mensal para a fundação de sua empresa. A segunda é definir os seus prazos e metas para abertura do seu negócio a partir do montante já em mãos.

De uma maneira ou de outra, seja disciplinada e fiel ao seu plano de ação: poupe o valor pré-determinado na data exata; seja realista no momento de definir os custos de cada etapa do seu projeto; conte com uma renda real, que seja certa, para não “furar” seu plano; se você se viu diante de um montante considerado alto para seus padrões, reveja as etapas anteriores e modifique o necessário para caber em seu orçamento; comece pequeno, mas com uma base sólida. Assim você garante que o movimento, daí em diante, só poderá ser ascendente.

Já estamos finalizando esta matéria por aqui, minhas queridas. Tenho certeza que a cabecinha de vocês está fervilhando de ideias para, desde já, literalmente desenhar a empresa de vocês conforme o esqueleto apresentado acima. Nas próximas semanas farei artigos orientando a confeccionar e pontuando o que é de maior importância em cada etapa desse plano de ação, uma a uma, para maior clareza na exposição de ideias e no planejamento das ações. Se possível, rascunhem algumas coisas em cima do que já foi dito até aqui e, conforme forem saindo os artigos futuros, vão ajustando detalhes e corrigindo e/ou prevendo falhas dentro do projeto.

Sucesso, luz e paz! Até a próxima!

Raquel Queiroz

Artesã proprietária da Quel Arteira Produções Artesanais, Raquel Queiroz é jornalista e pedagoga. Sempre gostou de consumir artesanato, tanto que transformou esta paixão em uma forma de empreender.

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