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E se Amy Winehouse fosse empoderada? #SomosTodasAmy

Ontem assisti, pela terceira ou quarta vez, o documentário sobre a vida da cantora inglesa Amy Winehouse, que há cinco anos nos deixou, vítima de parada cardíaca, provavelmente provocada pelo excessivo consumo de álcool e também pelos efeitos de anos de bulimia.  E, apesar do problema de saúde da cantora, fico sempre me perguntando o que teria sido da cantora se ela tivesse tomado as rédeas da própria vida. Talvez aquela excepcional voz ainda estaria entre nós, fazendo o que mais gostava de fazer: cantar jazz.

No entanto, o que mais me chama atenção é observar que Amy era gente como a gente. Um dos pontos bastante evidentes ao longo do documentário é o comportamento da cantora, que não casa com o grande potencial que ela tinha. Ainda que entrasse na lista de discos mais vendidos e também em diversos rankings, Amy não tinha confiança, autoestima ou mesmo ciência do quão grande ela era. Assim, ela acabou desenvolvendo uma grande dependência emocional das pessoas que mais admirava, mas que, no entanto foram as mais cruéis com ela: o ex-marido Blake e o pai, Mitch Winehouse.

“Contato que meu marido esteja feliz, eu estou feliz”, conta ela em uma entrevista. Mas tal dependência emocional, em vez impulsioná-la, só a levou ao fundo do poço. Enquanto Blake a apresentou ao mundo das drogas mais pesadas, como crack e heroína, o pai a colocou desacordada em um avião, a fim de obrigá-la a cumprir a agenda de shows na Sérvia – evento este que ela já tinha dito aos quatro cantos que não queria fazer. E não fez. “Love is a losing game”, cantaria ela.

Love is a losing game

Why do I wish I’d never played

Outro ponto que me chama atenção foi a exposição excessiva da cantora. Mesmo antes de ser um fenômeno global, ela já tinha dito que não aguentaria estar sob os holofotes. Turnês mundiais, paparazzos em todos os cantos, ser documentada pelo próprio pai a todo momento. Nada disto fazia sentido para ela. Além de formar uma família e ter filhos (um dos motivos pelos quais ela tentou se manter sóbria meses antes de morrer), Amy queria fazer projetos pequenos, com pessoas com quem gostava de trabalhar e que fossem voltados ao Jazz.

Mas e eu com isso?

Apesar de serem realidades distantes, todas nós temos um pouco de Amy. Afinal, quem nunca se viu em uma relação abusiva, seja ela amorosa ou mesmo na família? Quantas vezes nós, Marias, não nos demos conta do verdadeiro talento que temos e tiramos o melhor proveito deles? Quantas vezes não abdicamos da nossa felicidade para fazer outras pessoas felizes? Quantas vezes transferimos a responsabilidade das nossas decisões para outras pessoas? E, mais importante: quanto tempo vamos demorar para, de fato, assumir as rédeas da nossa vida?

É incrível o número de mulheres que, apesar da independência financeira e ser bem sucedida na carreira ou nos negócios, sofrem abusos e mais abusos dos cônjuges. Que não contam com o apoio da família ou mesmo são desacreditadas e subestimadas por todos que a cercam.

Outro ponto que me chama atenção é a cobrança que temos para assumir a liderança de mercado. A impressão que tenho é a de que o empreendedor só é bem sucedido se tem lucro na casa dos milhões. Porém, há diversos outros fatores que indicam o sucesso além das cifras. Trabalhar com o que ama, ter tempo para dedicar à família e aos filhos, ter qualidade de vida, ter uma vida, em termos financeiros, confortável.

Afinal, temos sempre que questionar qual é o real preço do sucesso, de ser sempre o melhor, de liderar e dominar o mercado. E se estamos realmente dispostas a aceitar as consequências deste sucesso absoluto. Amy não estava.

Desejo profundamente que Amy tivesse se dado conta do talento inegável que era. Que tivesse tido coragem de confrontar Blake e Mitch, a fim de desenvolver projetos que fizessem sentido para ela. A fim de se manter saudável, não só em relação às drogas, mas também em relação às manipulações psicológicas do pai. Provavelmente estaria cantando para pequenos públicos e com seus ídolos, como Tony Bennett, em pubs londrinos, mas feliz. Talvez já com filhos e uma família estruturada, talvez sóbria, mas principalmente feliz.

E desejo também que cada uma de nós consiga identificar a nossa própria Amy. E que possamos assumir, de fato, todas as decisões das nossas vidas, para que possamos ser felizes.

Camila Bez

Jornalista especialista em contar histórias de superação. Feminista, sonha em criar um mundo mais igualitário e justo para as mulheres por meio da informação e do empoderamento econômico.

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