Crédito: Danilo Arenas Ireijo
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Com empreendedorismo, Same Putumi quer salvar os índios e a Amazônia

Conhecida mundialmente como os pulmões do mundo, a Amazônia tem uma importância vital e econômica não só para o Brasil, graças à riqueza da biodiversidade que ostenta, mas também global, tendo em vista que a floresta é responsável pelo equilíbrio ecológico mundial.

Ainda assim, as autoridades brasileiras não se deram conta da relevância da floresta, tendo em vista que o desmatamento minou, entre 2017 e 2018, cerca de quatro mil quilômetros quadrados, o que equivale a 13 vezes o tamanho de Belo Horizonte.

Same Putumi, pajé da tribo Huni Kuin, almeja minimizar este cenário de destruição por meio da valorização e difusão da cultura indígena, já que os índios respondem pela preservação de 30% da área da floresta. E, para isso, ela vê busca no empreendedorismo formas de preservar a floresta.

Líder desde a infância

Em um encontro promovido pelo Projeto Share, em São Bernardo do Campo, a líder indígena contou que se prepara para ser pajé desde os sete anos. “Para ser liderança, precisamos saber todos os trabalhos femininos. Só de pinturas são 62, que temos de saber de cabeça. Já na medicina, há os cantos de cura. Por isso, precisamos fazer uma formação”, conta ela, que é uma das primeiras pajés da Amazônia.

A índia conta ainda que, em geral, as mulheres da tribo são responsáveis por diversas tarefas e, assim como na cidade, trabalham até mais que os homens. “Cuidamos das crianças e da casa, carregamos água o dia inteiro, preparamos as refeições, buscamos bananas e macaxeiras, cuidamos dos maridos e até na caça [tarefa tradicionalmente masculina] estamos ajudando”, relata.

A novidade é que nos últimos cinco anos as mulheres também estão assumindo o protagonismo da tribo, tornando-se pajés e professoras. Same foi ainda mais longe: hoje responde pela presidência do Instituto Nhandepa, que tem como objetivo proteger as florestas brasileiras e os povos tradicionais e foi lançado em 16 de fevereiro.

Empreendedorismo

Pouca gente sabe, mas a floresta amazônica tem um valor infinitamente maior que a atividade pecuária – motivo pelo qual ela é desmatada. Estudos de 2006 apontam que se 5% da biopirataria da época (extração ilegal de matéria-prima) fosse coibida, isso renderia à economia brasileira R$ 1,4 trilhão.

Para Same, no entanto, a preocupação é preservar seu povo, suas tradições e toda a tecnologia (como eles se referem ao conhecimento sobre a natureza) que a Amazônia tem a oferecer. Assim, ela almeja comprar os territórios indígenas hoje demarcados, pois só com a posso do terreno ela consegue garantir a permanência dos Huni Kuin nas terras que sempre foram da tribo.

E como ela vai atingir este objetivo? A resposta está no empreendedorismo. Junto com a equipe do Instituto Nhandepa, busca mecanismos jurídicos para viabilizar o desenvolvimento de produtos ecologicamente sustentáveis, além de comercializar produtos artesanais feitos pelas nativas, como brincos e acessórios, vender fotos e criar projetos especiais, como festivais e exposições. “Uma formação a mais é sair da tribo para levar as nossas dificuldades e também que os jovens saiam da tribo para conhecer ambas as culturas, pois assim ambas podem colaborar com a nossa aldeia”, pontua.

Por falar em exposição, até 3 de março a exposição homônima do instituto está em cartaz no Museu da Imagem e do Som (MIS) em São Paulo, com entrada gratuita.

Camila Bez

Jornalista especialista em contar histórias de superação. Feminista, sonha em criar um mundo mais igualitário e justo para as mulheres por meio da informação e do empoderamento econômico.

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