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Quer aprender a vender? Vá para Istambul

Não é de hoje que ouvimos falar sobre o poder de negociação dos turcos. Sempre que vemos alguém pechinchando, “chorando” um descontinho, vem aquela expressão: é turco. Aquele que sabe negociar como ninguém, quando não é um turco, possivelmente será “apelidado” como um. E assim como eles são bons para negociar, são ótimos estrategistas de vendas.

Os turcos são pessoas super receptivas e sabem receber os turistas. Falo por experiência própria. Já fui à Turquia três vezes e morei em Istambul por quase quatro meses em 2013. Foi uma experiência incrível, maravilhosa e espirituosa para mim. Na temporada em que morei em Istambul, pude observar sobre como os turcos valorizam o atendimento e como eles são encantadores no quesito vendas. E sabe de uma coisa? Aprendi a negociar e a economizar com eles, hehe.

E o mais legal é que eles são grandes estrategistas. Vou exemplificar, com algumas fotos tiradas na minha vivência por lá.

As fotos abaixo foram tiradas na Capadócia, quando fui a primeira vez com a minha mãe. Sim. Fizemos o tão falado passeio de balão. Não é barato, mas como ir à Capadócia e não fazer o passeio de balão e visualizar as chaminés de fadas do alto? O marketing desse passeio é muito bom. Eles nos proporcionam um brinde com espumante e ainda nos entregam um certificado de que voamos de balão na Capadócia. Não é bacana? Mais que bacana, estes pequenos brindes atendem a uma grande tendência que só chegou agora ao Brasil: a da personalização dos serviços ou produtos. Não é à tôa que, mesmo sendo um investimento significativo, o passeio de balão conquista as pessoas.

Esse atendimento e a simpatia propaga-se para outros turistas através da nossa experiência, contada aos amigos, conhecidos etc. É uma boa propaganda boca a boca. Os turcos são adeptos do velho marketing. Sem usar de muita tecnologia eles sabem trazer o cliente até eles, e melhor: por ser boca a boca, eles não precisam fazer tanto esforço para conseguir novos clientes. Basta oferecer um excelente serviço.

Arquivo pessoal
Arquivo pessoal

Outra parada incrível, já em Istambul, é o famoso Grand bazar. Show de simpatias e cores. E barulho, vamos combinar. Os gritos: é Brasil! Pelé! São Paulo! Rio de Janeiro! Qualquer palavra que leve ao Brasil é válida para chamar a nossa atenção. E olha, eles reconhecem um brasileiro de longe. Por que será? Acredito que uma das razões é que ao citar as referências do nosso País, eles criam uma conexão com os turistas brasileiros. E acredite, Marias: conexões com o seu cliente vende. E muito!

Na foto abaixo, minha mãe é paparicada por um vendedor no Grand Bazar. Sem falar no chá que eles oferecem, muitas vezes até com um docinho turco.

Arquivo pessoal

Por falar em doces, as cores expostas pelos corredores são um espetáculo à parte. Atraente e trazem alegria, junto aquele cenário barulhento e com tudo misturado: pashminas, lenços, roupas, cerâmicas, tapetes, objetos de decoração, jóias, comidas, e… e os doces, coloridos como uma aquarela. E mais colorido que os doces, são os temperos, mais conhecidos como especiarias.

Repare que nesta apresentação de especiarias, os vendedores apostam muito no design. As cores, além de chamativas, causam até sensações nos clientes. De acordo com o periódico Management Decision, as decisões de compras são tomadas em 90 segundos, e uma parcela entre 62% e 90% decidem comprar um produto inconscientemente, influenciadas principalmente pelas cores que elas vêem. Ou seja: o empreendedor dono desta loja sabia muito bem disso ao escolher produtos de cores tão chamativas para vender mais.

Arquivo pessoal

A mistureba de coisas e o barulho é facilmente vencido pela simpatia e alegria dos turcos. Por exemplo, eu tenho pavor a lugares cheios, barulhentos e com muita informação. E o Grand Bazar tem tudo isso e muito mais. Ao contrário de muitas mulheres, eu não gosto de fazer compras, especialmente quando preciso experimentar as roupas. Porém, eu fui ao Grand Bazar várias vezes, nem consigo contar. Foram muitas, mas nem me importei com os ruídos e nem com o excesso de gente. O que será que este lugar tem de atraente?

E os restaurantes? Muitos possuem “vitrine viva”. Isso mesmo! Eles colocam uma mulher preparando os pães, aqueles pães abertos, que parecem uma pizza, que são servidos de entrada, bem como uma massinha chamada Gözleme (uma espécie de pizza com recheio de queijo, espinafre ou carne), que eu particularmente adoro. Sabem o que é isso? É o público participando do processo de fabricação da comida servida no restaurante. Os clientes com visualização direta do processo de criação. Show, não é?

Arquivo pessoal

Ah, e o tradicional kebab de testi?? Um prato nacional que é feito e servido numa panelinha estilo jarro de barro, quebrada na hora de servir, na frente do freguês! Esse prato é uma atração a parte. Difícil um turista não experimentar. E ainda tem toda a “brincadeira”, que geralmente os garçons fazem antes de quebrar o jarro. Isso é Turquia (e estratégia para encantar o cliente, claro).

Arquivo pessoal

Voltando à Capadócia, existe um passeio de camelo. Na verdade, o “vendedor” não inicia o processo de venda oferecendo o passeio, mas sim uma foto do turista em cima do camelo, por um preço simbólico, super baratinho. Aí você pensa, ah vou pagar 1 dolar para subir nesse camelo, será uma foto diferente. Mas, quando você já pagou e está lá em cima do tal camelo, o danado do vendedor fala que por mais 2 dolares, ele leva o você para andar em cima do camelo até uma paisagem muito bonita. Aí vem a sacada, ele mostra fotos dessa paisagem, que é realmente foda de linda e diz que para fazer a foto nesta paisagem, aí ele mostra outras fotos de turistas no camelo diante dessa paisagem, e diz: mais 5 dólares pela foto, que só ele sabe tirar (hehe). Foda isso, não? Aí você fala: “que filho da p*t@”.

Pois é? São ou não são bons? Essa última foi uma sacanagem, vamos combinar! Mas deu certo, ele faturou quantos 1+2+5 dólares de quantos turistas com essa estratégia?

É isso aí, minhas caras, não sou uma expert em vendas, mas aprendi algo através das minhas vivências na velha Constantinopla. Quem sabe volto com a segunda parte desse artigo e mais dicas sobre como os turcos gostam de mostrar o processo de fabricação em suas “vitrines” abertas ao público.

Hadi Görüşürüz (Até logo).

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Priscylla Spencer

Engenheira de produção, especialista em Logística e Gestão de Projetos e entusiasta nos assuntos sobre a relação humana e autoconhecimento. Tem 37 anos, dos quais 14 dedicados ao mercado, nas mais diversas áreas profissionais. Atuou na Vale, Grupo Pão de Açúcar, Camargo Advogados e Rezende Empreendimentos Imobiliários. Em 2011 fundou a Spencer, consultoria especializada em gestão e otimização dos processos. É pioneira no mercado como profissional na área de mapeamento de fluxos e organização dos processos na área jurídica.

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