Para muitas mulheres, o sonho de empreender nasce com a maternidade. Mas para Deise Warken, o desejo de criar o próprio negócio nasceu depois de um intercâmbio – investimento que ela fez para aprender a língua inglesa.
Há um ano e meio, a bacharel em Direito, com especialização em Direito Empresarial e Didática e Metodologia de Ensino de 40 anos dedica-se integralmente à Mutativa, empresa de Gestão do Hábito, mas quer voltar ao plano original de conciliar sua carreira corporativa e seu empreendimento que, a cada dia, se consolida mais. Confira a entrevista na íntegra desta empreendedora, assim como sua estratégia e planejamento.
Voa, Maria: Quem é a Deise? Como você se descreve?
Deise: Uma mulher inquieta, cheia de dúvidas, não muitas certezas. Inconstante, aérea (dizem que é por causa do signo, Gêmeos, eu sinceramente entendo pouco ou quase nada do zodíaco). Mutativa. Se há uma constante em mim, é a mudança. Durante muito tempo me culpava por ela, hoje aceito como minha forma de viver o mundo, e fundei uma empresa que trabalha justamente isso, a mudança. Experimentar, viver me jogando nas mudanças e colhendo seus frutos, viver, essa sou eu. Buscando raízes que sejam tão longas e tão fortes quanto seja possível estar longe delas e conectada à elas. Uma sonhadora, que acredita no amor, que acredita nas pessoas, nas relações saudáveis e na capacidade humana de se reinventar, de fazer o impossível.
VM: Qual é a sua formação escolar, universitária?
Sou bacharel em Direito, com especialização em Direito Empresarial e Didática e Metodologia de Ensino. MBA em Gestão Estratégica de Empresas.
VM: Quais empregos, experiências teve antes de decidir empreender?
Deise: Advoguei durante 12 anos, aos poucos e, naturalmente, fui desenvolvendo a carreira de gestão organizacional, liderei equipes em escritórios de advocacia e em departamento jurídico interno, onde vivi uma experiência incrível numa grande empresa de logística. Em 2012 comecei a questionar minha trajetória profissional e os rumos que estava seguindo, pois estava me distanciando cada vez mais da advocacia e mergulhando em gestão de áreas que não guardavam relação com o mercado jurídico, então, bateu um “medinho”, até que em 2013, não sabia se “casava ou comprava uma bicicleta”, decidi fazer um intercâmbio pra estudar inglês e minha vida deu uma grande mudada. As dúvidas que tinha ao embarcar para o intercâmbio se foram, mas no desembarque ao voltar pra casa, outras chegaram na bagagem.
VM: Por que decidiu empreender?
Deise: A decisão de empreender aconteceu na volta do intercâmbio, fiz um curso de Empreendedorismo Criativo e surgiu a ideia no projeto de finalização do curso de trabalhar com Educação Corporativa. Sempre gostei de ensino, já tinha dado aulas, feito palestras na juventude, então, comecei a estruturar o piloto do negócio. Fiz uns eventos pra avaliar aceitação e me animei. Minha ideia sempre foi de conciliar a carreira executiva com o empreendedorismo, queria manter meu trabalho no mercado corporativo e criar a empresa ao mesmo tempo. Acredito que inspirar pessoas a trabalhar e viver melhor, estando dentro do mundo corporativo ajuda a ter mais empatia, me comunicar melhor. Mas, as coisas não saem sempre do jeito que a gente planeja e acabei empreendendo sem manter o trabalho que eu tinha e antes do que estava no meu cronograma. Fiquei com medo, insegura, me senti sozinha, mas encarei. Agora sinto que está na hora de retomar o planejamento inicial.
VM: Qual é a sua empresa e quais são os diferenciais dos seus produtos e/ ou serviços?
Deise: Mutativa. Uma empresa que ajuda empresas e pessoas a promoverem mudanças, a partir da Gestão do Hábito. A metodologia Gestão do Hábito, foi criada com base nas experiências profissionais e no que estudei nos últimos anos, então ela é bastante única, e também efetiva, pois tive a oportunidade de aplicar na minha vida pessoal e profissional. Trabalhar pequenas mudanças de hábitos, aliando o despertar de consciência com experiências racionais e emocionais, efetivamente promove melhores resultados.
As palestras e workshops da Mutativa estão sempre se atualizando, ganhando novos conteúdos e formas de trabalho, sem perder sua essência original, quem participou de uma palestra no ano passado, quando a empresa foi lançada, e participar hoje de uma palestra vai viver uma experiência bem diferente.
VM: Como se preparou para investir no seu próprio negócio (fez cursos? Mentoria/ coaching?)
Deise: Eu sou uma eterna aprendiz, estou sempre fazendo cursos, assistindo palestras, lendo. Fiz muitos cursos, assisti muitas palestras. Não fiz mentoria, nem coaching, ainda. Acho que está na hora de partir para esse recurso, depois de 1 ano e meio na estrada sozinha, estou sentindo necessidade de contar com alguém. E também de voltar para o mercado corporativo e aliar as duas coisas, como era meu plano inicial.
VM: Quais vantagens o empreendedorismo oferece?
Deise: O aprendizado duro e gratificante. Encarar abrir uma empresa sozinha num momento de crise – política, econômica, ambiental, social, ética, ufa! – faz a gente ser mais forte, faz a gente ser mais lúcida, faz a gente ser mais gente. Usar a criatividade livremente, sem se preocupar com julgamentos ou com alguém “cortando suas asas”. Também a flexibilidade de horário, de estilo de trabalho. Fazer minha própria rotina e não ter que estar preocupada com as pessoas “me vigiando” se estou no “facebook” ou “fingindo que estou trabalhando, porque não tenho mais nada pra fazer e não posso ir embora porque tenho um horário”, não precisar lidar com a insegurança de colegas de trabalho que acham que estão competindo com você o tempo todo.
VM: Como sua vida mudou desde que decidiu empreender?
Deise: Mudou muito. Estava acostumada a trabalhar num ambiente com muitas pessoas, cheguei a trabalhar numa empresa em que dividia a sala com mais de 150 pessoas, e agora divido a sala, de vez em quando com um hóspede do Airbnb. Lidar com a solidão do Home Office tem sido difícil, mas também me lembrou que sou disciplinada e determinada, que consigo “liquidar” minhas pendências e tarefas com produtividade e posso ter mais tempo livre para outras coisas. Graças ao tempo livre que consegui com o empreendedorismo pude me dedicar a outras atividades, como o teatro e trabalhos voluntários de diversas naturezas.
VM: Quais são os desafios para consolidar o seu negócio?
Deise: No momento acho que meu maior desafio é aumentar as vendas num momento em que as empresas estão segurando o orçamento com unhas e dentes.
VM: Qual foi o seu capital inicial e como conseguiu levantá-lo?
Deise: Uma poupança que eu tinha guardada para fazer uma viagem internacional, menos de 20 mil reais para começar, depois do lançamento da empresa e com a grana que foi entrando fui fazendo outros investimentos.
VM: Quais dicas daria às outras mulheres que sonham em ter o próprio negócio?
Deise: Diria para investigarem a origem desse sonho. Qual o significado dele? O propósito? Quando sabemos o valor que aquele sonho tem, a razão para lutarmos por ele, isso faz a diferença. Se o propósito for só se livrar de um chefe chato, é um sonho que não dura um verão. Empreender é um sonho que flerta com pesadelo muitas vezes, é um caminho difícil e muitas vezes solitário, precisa querer muito, mas muito mesmo, pra levar adiante. Às vezes é preciso recuar, repensar a estratégia, e isso não é vergonha pra ninguém. É preciso pedir ajuda quando as coisas ficarem difíceis. É preciso acreditar, se aperfeiçoar, experimentar, errar e, principalmente, celebrar cada pequena vitória da jornada. A comemoração dos acertos, dos resultados dá energia pra gente continuar fazendo sonhos virarem realidade.
VM: Qual é o seu sonho?
Deise: Que a Mutativa viva muitos anos, que ela possa ajudar muitas pessoas a despertarem novas consciências, a fazerem mudanças sustentáveis em suas vidas e empresas. Especialmente, que ela continue fazendo mudanças sustentáveis na minha vida, para que eu possa ser uma pessoa melhor a cada dia, para que eu possa sentir que em algum momento fiz uma diferença positiva nesse mundo. E, tenho também o sonho clichê de formar uma família com um companheiro parceiro, filho, cachorro, casa com horta e jardim.
VM: Tem alguma coisa que não perguntei, mas que você gostaria de acrescentar? Fique à vontade.
Deise: Durante muito tempo tentei ser uma coisa ou outra, hoje sei que a gente é uma grande bagunça mesmo, cheio de contradições, incertezas, paradoxos, aprender a viver nesse furacão é desafiador, mas também gratificante, mudar, buscar novos caminhos nos faz sentir vivos, buscar respostas, encontrar outras perguntas. Não acho que todo mundo deva abrir seu próprio negócio, nem acho que todo mundo seja feliz dentro de uma corporação. Não tem regras! A felicidade é única, singular, o significado que damos ao que fazemos é particular. Propósito de vida e trabalho é um casamento que depende da escolha individual, e ela é muito diferente pra cada um. Às vezes, ouço as pessoas falarem sobre empreendedorismo (abrir seu negócio) como a única forma de ser feliz na vida profissional. Não é! Ser empreendedor é buscar inovação é mudar o que não tá dando certo, é encontrar novos caminhos onde parece não haver saída, isso acontece em qualquer forma de trabalho, num negócio próprio, no mercearia do bairro, na barraca da feira ou numa grande corporação. Empreender é viver! E cada um tem o direito de fazer a sua escolha, com consciência, com sabedoria emocional. E se escolheu errado, muda!