Ao longo de uma entrevista de quase uma hora, é possível perceber dois aspectos marcantes na personalidade de Beatriz Cricci, mais conhecida como Bia: a alegria e a humildade. A alegria fica evidente já no tom de voz da empreendedora de Indaiatuba. Já a humildade se revela na simplicidade com a qual ela fala sobre o seu negócio: apesar de a Br Goods ter 29 representantes em todo o Brasil e exportar cortinas hospitalares para dez países, ela se descreve como “sou pequena ainda”.
Conquistar a confiança para ser fornecedora dos principais hospitais do País, no entanto, não foi uma tarefa simples. Bia conta que empreende há 15 anos e que a ideia de produzir cortinas surgiu da necessidade do pai, que queria comprar uma cortina para banheiro. Mas diante do preço da mercadoria, Bia decidiu ela mesma produzir a peça, que fez sucesso entre as amigas. “Me perguntaram por que eu não fazia cortinas para vender”, lembra Bia.
Formada em Economia, com pós-graduação em Administração Industrial para Micro e Pequenas Empresas (curso oferecido pela Fiesp), Bia trocou o escritório de uma companhia internacional, em que atuava como gerente contábil, pela fábrica de produção montada no quintal de casa, onde confeccionava cortinas domésticas. “Quando fui oferecer meus produtos para lojistas, dei dez voltas no quarteirão antes entrar na loja. E eles compraram. No ano seguinte, fiz uma parceria com o Sebrae para expor no Equipotel [feira voltada para o setor hoteleiro] e fechei um pedido de 800 unidades para o Hotel Sheraton. Fiquei com vergonha de emitir a nota fiscal 001 para eles, então enviei a 002”, diverte-se ela.
“Tudo dá para fazer”
Otimista, Bia conta que tem como filosofia o princípio de que “tudo dá para fazer”, como até brincam os executivos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), com quem Bia, diretora da Federação, convive. Foi assim, com a cara e a coragem, que ela recebeu o desafio que levaria sua indústria a um novo segmento: o dos hospitais. “Em outra edição da Equipotel, tive uma reunião com o Hospital Albert Einstein, que até então trabalhava com cortinas importadas e queria um produto com determinadas especificações. ‘Precisamos desta cortina. Você faz?’. ‘Faço’. A minha vendedora queria me matar”, admite Bia, que nunca tinha produzido tal produto.
Apesar da inexperiência, Bia conta que sempre prezou pela qualidade. Assim, ela manda os materiais para institutos, pesquisa componentes químicos no Google, busca informações em mais de uma frente, liga e manda e-mail para empresas estrangeiras para chegar dados. “Sempre vai ter alguém disposto a ajudar, porque conto a minha verdade sou pequena e tenho dúvidas”, lembra Bia, que conseguiu entregar a demanda exatamente como o cliente queria e abriu portas para um novo nicho.
Mudança de comportamento
Nem tudo, porém, foi fácil na trajetória da empreendedora. Uma das principais dificuldades que ela enfrentou foi a comportamental. “Me apegava muito aos erros, que fazem parte do processo. Só conquistei esta maturidade nos últimos quatro anos, pois antes tinha medo de errar, vergonha e ficava apegada às coisas ruins, sem olhar para as coisas boas que eu tinha construído”, pontua.
Bia também teve, como é comum aos empreendedores, dificuldades financeiras. Ela conta que pensou até em desistir do negócio, mas já somava tantas dívidas que não teria condições de quitá-las trabalhando em empresas. “Eu não tinha opção. Tinha que fazer o negócio dar certo. Muitas vezes tive de explicar a minha situação aos fornecedores para quem devia, garantia que ia pagá-los e ainda pegava mais matéria-prima”, lembra ela, que, superadas as dificuldades iniciais, hoje prevê que a Br Goods vai fechar o ano com 100% de crescimento.
O segredo do sucesso, para Bia, é o conhecimento. “Quando investi na pós, estava indo para o buraco. Mas quando concluí o curso, estava faturando quase cinco vezes mais. Na época em que comecei a empreender não tinha canvas e não se pensava em planejamento estratégico. Com estas ferramentas, o meu caminho teria sido mais fácil”, orienta Bia, que também conta com outro diferencial: o de ser, como ela se descreve, muito batalhadora.