Sete em cada dez adolescentes vão desenvolver estrias. Em grávidas, a incidência é ainda maior: 90% delas ficarão com as marcas na pele. Mas apesar do alto índice de pessoas que têm o problema dermatológico, ainda há poucas soluções na indústria de cosméticos para quem busca sanar o problema.
É por isso que Talita Cibele conseguiu se destacar no mercado com a Novapelli. Por mês, ela fatura mais de seis dígitos, soma 60 pacientes e consegue atender entre oito e 12 novos clientes. Porém, mais que números, ela almeja proporcionar bons resultados e recuperar a autoestima de quem a procura.
“Tem mulheres que a dor é muito grande por causa da estria. Tenho pacientes que não usavam shorts há 20 anos”, exemplifica.
Vocação
Talita não encontrou este nicho de mercado aleatoriamente. Nascida em São Caetano do Sul, em São Paulo, ela sempre demonstrou habilidade para cuidar das pessoas. Ainda criança, auxiliava a avó cega a ir até a farmácia tomar insulina.
Grande parte da autoconfiança a paulista deve à avó. “Ela acreditava em mim, cresci com ela falando que eu era muito sabida. Não sei o poder que isso teve na minha vida, mas eu sabia que era sabida porque minha avó falava.”
Já aos 12 anos, Talita pensava sobre quais profissões gostaria de exercer no futuro. Para ela, era importante ser rica. “O que será que tinha de fazer para conseguir aquilo? O que mais tinha era a vaga na profissão de enfermeiro”, lembra.
Carreira sólida
Para atingir seus objetivos, ela então investiu em um curso técnico de análises clínicas e, quando terminou o ensino médio, prestou vestibular para Enfermagem, pois sabia que cuidar era uma arte que estava dentro dela.
Naturalmente, Talita se destacou no mercado. Atuou mais de 15 anos na área hospitalar, parte deles em um hospital referência. Lá, ela recebeu uma promoção, que a levou para ua área de gestão.
“Liderança sempre foi uma característica em mim. Era rápida em resolver algumas coisas e hoje eu enxergo que tinha muitas características empreendedoras. Mas não tinha essa consciência, porque fui criada para ter um emprego, ser CLT, ficar bastante tempo no emprego para não sujar a carteira.”
Talita Cibele
Questionamentos
Bom emprego, alto salário…. tudo parecia bem até o nascimento da filha, em 2010. Nos próximos quatro anos, Talita viveria um grande dilema: apesar da boa colocação, remuneração e até realização profissional, ela se sentia triste, uma tristeza que não conseguia identificar de onde vinha.
“Em 2013 comecei a refletir muito. Como eu me via nos próximos cinco anos? Não conseguia me enxergar no próximo estepe de progressão de carreira. Não queria mais subir de cargo”, conta ela. Afinal, subir de cargo significaria trabalhar ainda mais.
A agora empresária conta que, na época, respondia por tantas cobranças no hospital que, quando saia no horário ou pouco depois dele, as pessoas a olhavam com cara de ‘mas já está indo?’. As cobranças e insatisfação a levaram a adoecer. Talita teve burnout, depressão associada ao trabalho e crises em relação ao seu papel como mãe e esposa.
Novo começo
Ela não sabia o que queria fazer, mas tinha certeza do que já não queria para a sua vida. Ainda na área hospitalar, ela começou a atuar como auditora, mas não se adaptou à nova atividade.
Talita, então, decidiu trabalhar como consultora de uma famosa marca de beleza. “Fiquei encantada com a filosofia da marca, de priorizar Deus, a família e os negócios.”
Inicialmente, ela tinha repulsa a vendas. Mas conseguiu ressignificar este sentimento, tanto que virou diretora da marca e recebeu o famoso “carro rosa”. Como consultora, Talita trabalhou oito anos, até perceber que a beleza também é uma forma de cuidar das pessoas.
De olho nas oportunidades
O trabalho com cosméticos foi bastante significativo na vida da empreendedora porque foi assim que ela percebeu a escassez de produtos e tratamentos para estrias, até porque muitos profissionais dizem que o problema não tem tratamento.
“Não tem como não é uma palavra para mim. O homem já chegou na lua, faz cirurgia de separação de gêmeos siameses, faz cirurgia intrauterina, não tem como não ter jeito para estrias.”
Depois de investir em capacitações, Talita então passou a atender seus primeiros clientes na casa deles. No entanto, o trânsito começou a prejudicá-la, reduzindo o tempo disponível para fazer novos atendimentos. Assim, a saída foi atender em um cowork, por hora.
O mundo das estrias
Estria tem cura? A resposta de Talita é: depende. Quando a incidência é genética, não há solução. A única alternativa para o paciente é preveni-las, por meio da alimentação rica em vitamina C e pobre em açúcar.
Mas em casos em que a origem é o estiramento da pele, que ocorre no crescimento da criança para adolescente, aumento de peso ou gravidez, o problema pode ter solução sim. O tratamento dura cinco meses e, além de acompanhamento nutricional e exames, Talita trabalha com estímulos diretos na estria.
Para evitar as estrias, a especialista recomenda, além da alimentação, o uso de hidratantes ricos em vitamina A e E. “Também gosto de óleos. Primeiro a pessoa deve usar o hidratante e, por cima, aplica o óleo”, ensina.
Desafios e benesses
Fazer a transição de intraempreendedora no hospital para a chefia na própria empresa trouxe uma série de vantagens para Talita. Ela destaca a flexibilidade de horário como um dos principais benefícios em empreender.
Mas, para chegar neste ponto, ela precisou superar as próprias limitações. “Precisei passar por um processo de ressignificação das vendas. O trabalho empreendedor é um trabalho solitário. Não é fácil conseguir capital ou financiamento, os impostos são altos e gerenciar o tempo é algo bastante desafiador.”
Para quem quer investir na própria empresa, Talita aconselha a definição de um nicho. “Dentro da área da saúde existe uma gama de oportunidades. Acredito muito na especialização do profissional, no aprofundamento. Quando o profissional é generalista, ele entende um pouco de casa coisa. Saiba qual é o nicho que você realmente quer atuar. Busque oferecer o melhor resultado dentro do seu nicho. Cordialidade é obrigação de todo empreendedor. Atender bem é obrigação de todo empreendedor. O diferencial está no resultado de entrega”, recomenda.
Próximos passos
Além de trabalhar para expandir a capacidade de atendimento da Novapelli, Talita também tem como metas ampliar o espaço físico onde atende e trabalhar com outros profissionais que agregam valor à área de tratamento de estrias. Ela também vai oferecer mentorias pra empreendedoras da área da saúde, a fim de ajudá-las a impulsionar os próprios negócios.
Por fim, Talita Pereira trabalhar para ser ser referência em tratamento de estrias, especialmente em pele negra, no País. “Existe uma carência muito grande no mercado. Mas acredito que o que faço é a recuperação de autoestima. Tão importante quanto recuperar uma pele é recuperar uma autoestima. A mulher com a autoestima recuperada é uma melhor mãe, ela é melhor para a sociedade. ela fala não para muitas coisas para que a mulher se submetem”, conclui.