Artesanato Entrevistas

Mari Rodrigues: a arte como viver de arte

Desde que se conhece por gente, Mari Rodrigues está cercada de lápis, tinta, papel e tecido. Tanto é que, mesmo depois de passar por diversos empregos e perceber que não se encaixava aos padrões e exigências do mundo corporativo, sabia que só seria feliz fazendo o que tanto ama: trabalhar com arte.

Além de obras sacras, Mari também tem um grande engajamento na formação e estímulo de novos artistas, para que eles possam, assim como ela, transformar seus talentos em fonte de renda. Foi assim que ela criou o grupo Empreender com Arte, que já soma mais de três mil membros, e oferece ainda uma plataforma digital com entrevistas, cursos, palestras e todo tipo de subsídio intelectual para que tais artistas possam se desenvolver cada dia mais.

Conheça a trajetória desta empreendedora, assim como as dicas para quem quer investir no artesanato.

Voa, Maria – Quem é a Mari Rodrigues?

Mari Rodrigues: Meu nome é Maria das Graças Rodrigues. O nome Mari vem desde a época do extinto Orkut. Sou artista plástica, desenhista e retratista. Sou autodidata na pintura, não tenho formação acadêmica. Fazia publicidade, mas não terminei. Iniciei minha carreira de artista sacra em 2013 e pintei umas 15 igrejas na região metropolitana do Rio e Região dos Lagos. Sou a filha mais nova de cinco, sendo os quatro homens. Meu pai morreu muito cedo (eu tinha apenas 14 anos), o que mudou completamente nossas vidas. Comecei a trabalhar com arte aos 17 anos, fazendo arte final para etiquetas e estampas de camisas. Passei por diferentes trabalhos: fui vendedora, radialista, operadora de telemarketing, mas nunca suportei ambientes corporativos e fechados. Acabei voltando para a liberdade que só se tem quando se trabalha com arte.

VM – Li no site que você começou a trabalhar com arte há 10 anos. O que a levou para este caminho?

Mari: Sim, há mais de 10 anos, 13 anos na verdade. Trabalho com arte sacra, mas vendi meus primeiros quadros aos 17 anos de idade. Quando entrei para o grupo jovem da igreja católica. Logo surgiu a necessidade de fazer cartazes e, na época, sugeri que fossem feitos em tecido para que tivessem maior durabilidade. A partir daí comecei a fazer vários painéis litúrgicos. Na época finalizei meus estudos de desenho e iniciava aquarela, quando me senti confiante fiz um portfólio e fui oferecer meus serviços na igreja Matriz de São Gonçalo, minha cidade. Fiz a Via Sacra (sequência de quadros que representam a Paixão de Cristo), aí não parei mais.

VM – Hoje quais são os produtos que você vende (é tanta coisa que fiquei até perdida)?

Mari: Tenho uma loja virtual http://www.studioaec.com.br/, em que tenho apenas dois focos: tecido e arte. São peças de decoração e acessórios feitos com tecido e pintura em tela. Os serviços de pintura sacra não são oferecidos online (ainda). E tenho uma plataforma online, o site E.Arte http://empreendercomarte.com.br/, em sociedade com Marion Creutzberg, em que o direcionamento é para empreendedores criativos.

VM – Quais são os produtos que têm maior procura?

Mari: As ecocarteiras feitas com caixa de leite. Não comparo à arte sacra, pois aí trata-se de prestação de serviço.

VM – Vi que você trabalhava com arte sacra e decidiu investir em outros produtos. O que a levou a fazer esta transição?

Mari: O trabalho nas igrejas é cansativo e demanda uma carga horária de no mínimo seis horas. Para trabalhar, preciso deixar meu filho com a babá. Quando ele era bem pequeno isso era muito sacrificante, pois estava perdendo boa parte de seu desenvolvimento e para ele também era muito difícil a questão de adaptação. Foi quando decidi trabalhar em casa e investir em algo que estava esquecido na minha infância e adolescência: o artesanato.

VM – Em sua opinião, qual é a maior dificuldade para se firmar empreendedora?

Mari: Para mim, a gestão do negócio ainda é complicado. Lidar com a administração e finanças.

VM – E quais são os maiores benefícios desta escolha?

Mari: A liberdade (mas com muita disciplina), a alegria de se fazer o que ama e, sem dúvida, ver a satisfação do cliente ao adquirir um produto feito pelas minhas mãos.

VM – Tem alguma coisa que não perguntei sobre o seu trabalho que você gostaria de acrescentar?

Mari: Gostaria de falar um pouco sobre a plataforma E.Arte. É um projeto em conjunto com a Marion Cretzberg, que trata de empreendedorismo criativo, voltado para pessoas que decidiram viver de seus talentos, fazendo o que amam. A plataforma terá entrevistas, cursos online, e-books, conteúdos gratuitos e artigos esclarecedores sobre as dificuldades e as compensações em se tornar um empreendedor apaixonado pelo que faz.

VM – Sobre o grupo Empreender com Arte, quando e por que teve esta ideia?

Mari: No blog, http://www.studioartecasa.com.br/ fica a coletânea de todos esses produtos, serviços e links, e foi justamente lá que essa ideia surgiu. Comecei a fazer entrevistas com artistas e artesãos mostrando que era possível, sim, viver fazendo o que ama. O título era #empreendercomarte. Foi aí que nasceu o grupo (que hoje tem mais de 3.200 membros), do grupo surgiu minha parceria com a Marion e da parceria, a plataforma E.Arte. Uma ideia foi levando à outra, formando um elo.

VM – Quais foram os benefícios pessoais e no seu negócio que adquiriu desde a criação do grupo?

Mari: Os benefícios pessoais sem dúvida são a satisfação e o comprometimento que você tem em ajudar as pessoas, fazendo pesquisas, buscando desenvolver publicações relevantes tudo no intuito de ajudar os membros do grupo. No meu negócio o crescimento e o reconhecimento de um bom trabalho. Logo que abri o grupo, a Marion se colocou à disposição para me ajudar (logo ela, uma pessoa que sempre admirei como grande empreendedora), e daí o desenvolvimento foi crescente.

VM – Quais são as maiores dificuldades que as mulheres têm de empreender?

Mari: No meu ponto de vista, existem duas dificuldades. A primeira, relativa à emoção.  Mulheres são naturalmente mais emotivas e têm certa dificuldade em cobrar por seus trabalhos, ao mesmo tempo que têm suas peças como filhos e por isso possuem um valor incalculável. Imaginam que o cliente não pagará o valor que a peça merece e acabam baixando demais o preço, desvalorizando-se sem perceber. A segunda, a dificuldade em conciliar casa, marido, filhos e trabalho. E na dificuldade em conciliar acabam não sabendo dividir, horários, espaço físico. Fica tudo muito junto e misturado, na cabeça e no ambiente.

VM – E quais dicas você daria para elas?

Mari: A mulher deve buscar capacitação não somente para o seu trabalho se tornar cada vez mais profissional, como também cursos de como administrar, como cobrar por suas peças, como valorizar seu trabalho, como administrar o tempo. E indico sempre que tenham um lugar de trabalho específico. Ali deve ser o ambiente de trabalho, com regras, horários e disciplinas a serem cumpridos, com muito aconchego, cores e delicadezas próprias de nós mulheres.

VM – Por fim, qual é o seu sonho?

Mari: Ainda é e sempre será viver fazendo o amo. Desde que me conheço como gente estou cercada de lápis, papéis e tintas. Não consigo ser feliz fazendo outra coisa e agora compartilho de outro sonho: mostrar aos outros criativos que isso é possível.

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Camila Bez

Jornalista especialista em contar histórias de superação. Feminista, sonha em criar um mundo mais igualitário e justo para as mulheres por meio da informação e do empoderamento econômico.

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