Entrevistas

Empreendedorismo na construção civil: a experiência de Bárbara Kemp

Cansada de trabalhar como funcionaria do setor de engenharia de um grande banco, onde não tinha a liberdade de criar ou fazer algo diferente, a arquiteta Bárbara Kemp, 39 anos, decidiu assumir os riscos de montar o seu próprio negócio. Tomada a decisão, vislumbrou uma oportunidade para sua carreira solo e, literalmente, colocou a mão na massa.

Empreendedora de sucesso, Bárbara Kemp é proprietária hoje da Kemp – Projetos e Gerenciamento de Obras, empresa com sede em São Paulo e base remota com funcionários em cinco estados do Brasil.

Confira a entrevista exclusiva ao Voa, Maria, em que a empresária conta quais foram as suas dificuldades no empreendedorismo e como conseguiu consolidar seu negócio.

Voa, Maria: Como foi o começo da sua aventura no empreendedorismo em um segmento ainda hoje predominantemente masculino?

Bárbara Kemp: Vi uma oportunidade de negócio na mesma área em que eu já atuava, mas no Nordeste (fiscalizar obras para a rede de Supermercados Walmart e Banco Real). E resolvi arriscar. Não tinha nada a perder. Em relação a ser uma área com predominância masculina, nunca me preocupei com isso. Sempre souber lidar com essa estrutura, pois sempre estive nesse meio. Tenho muito mais amigos homens que mulheres e sempre soube usar o charme feminino a meu favor.

VM: Quais os principais desafios e dificuldades que teve de superar até conseguir consolidar-se no mercado?

Bárbara: Todo começo é difícil, e parece que não encontramos uma luz no fim do túnel. No começo enfrentamos clientes mal pagadores; por ser uma empresa nova, formada por duas pessoas, eu e meu marido [Rogério Kemp], não tínhamos crédito no mercado. Tínhamos de contar as moedas para comer, dividíamos uma marmita, pois não tínhamos grana pra comprar duas. Nosso trabalho exigia viajar, e, para economizar, dormíamos em aeroportos, pois não tínhamos grana para hotel. Na época, notebook era muito caro, então tínhamos um PCbook, era o nosso PC que levávamos para todo lugar.

VM: Formação e capacitação técnica foram pontos fundamentais para dar viabilidade ao seu negócio? Por quê?

Bárbara: O meu trabalho é técnico. Minha formação teve muita importância para viabilizar o negócio, sem contar que já possuía uma experiência de quase de 10 anos no ramo quando abri a empresa. O boca a boca, resultado do bom trabalho que realizamos, da dedicação e acima de tudo da ética, que me abriu muitas portas. Até 2014, não tínhamos área comercial, pois a empresa era mantida somente por meio da indicação de clientes. A empresa era realmente comprada pelos clientes, eu não precisava vender.

VM: Quais novos conhecimentos teve que incorporar à sua formação para tornar-se uma empreendedora de sucesso? Como fez isso?

Bárbara: O trabalho eu sabia fazer, então sabia conduzir a equipe. Este foi o diferencial. Só que com isso a administração da empresa foi deixada de lado. A falta de conhecimentos de administração, nos trouxe alguns prejuízos financeiros, e isso tive que aprender no método empírico. Há um ano, iniciei um pós muito interessante, que é em administração para donos e sócios de PME [Pequenas e Médias Empresas] da FIA (Fundação Instituto de Administração). Isso me deu um outro olhar.

Ser empreendedor no Brasil não é fácil. Você tem de saber de tudo, responde civil e criminalmente por coisas que não pode imaginar. O nosso sucesso veio com muito trabalho. Não ter medo de sair da cadeira de dono e ir limpar o chão de uma obra. Não ter medo e nem ego para descer na operação para corrigir falhas.

Ser dono é trabalhar muito mais que todos os demais funcionários. É deixar de lado a vida pessoal por um bom tempo, em prol de algo que pode te trazer retorno. E, acima de tudo, é sempre pensar no plano B.

VM: Qual a atual estrutura que a Kemp possui hoje?

Bárbara Kemp: Hoje estamos com a estrutura mais enxuta, devido à natural redução de trabalho neste período de crise. Apesar disso, em 2014 aumentamos nossa carteira de clientes em 200%. Temos sede em São Paulo e base remota com funcionários em quatro estados (Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte e Rio de Janeiro) e ainda na capital federal. Iniciamos 2016 iniciamos com mais dois grandes clientes de grande porte. Nossos clientes são bem robustos, pois atuamos na área varejo e no segmento bancário: Santander, Renner, Nike, Quiksilver, Tam, Azul, Carrefour, Leroy Merlin, Natura, Boticário, Lojas Americanas, entre outros.

VM: Muitas empreendedoras têm dificuldades no momento de expandir o seu negócio e assumir novos desafios. Qual o segredo para crescer?

Bárbara: Não tenho medo de assumir riscos. Mas antes de assumi-los, tenho o plano B. Sempre me pergunto: se der errado, como irei resolver o problema? Para tudo o que faço penso nesta solução. Sempre fui pé no chão e sempre evitei me endividar. Por exemplo, se quero um carro legal, guardo dinheiro para comprar à vista. Senão, não compro. Também prefiro poupar a sair gastando. A Kemp se preparou para uma crise na construção civil. Nos momentos das vacas gordas, a empresa poupou dinheiro.

VM: O que é preciso para otimizar o potencial dos profissionais a seu serviço?

Bárbara: Hoje trabalhamos com a metodologia da Gestão por Diretrizes (GPD), do Vicente Falconi. As pessoas têm metas a serem cumpridas. Para isso, fazemos treinamentos periódicos em diversas áreas. Nos momentos de crise, analisamos o custo benefício e aproveitamos a baixa de trabalho para organizar nossos processos internos.

VM: Além dos pontos indicados acima, existem outros que você considera como fundamentais na construção de um negócio de sucesso?

Bárbara Kemp: Alguns pontos valem ser ditos:

  • Um negócio não funciona sozinho, precisa de clientes.
  • O negócio é a cara do dono, então o dono precisar arregaçar as mangas e fazer o negócio virar.
  • O empreendedor trabalha muito mais que a época de quando era funcionário.
  • O dinheiro da empresa é da empresa e seu salário só sai de lá se tiver lucro, então não confunda as despesas pessoais com o da empresa.
  • Família só deve entrar no negócio se tiver competência técnica para tal, caso o contrário, não a coloque na empresa.
  • Se não entende de contabilidade (contabilidade não é pagar DARF), faça um curso rápido, pois é fundamental e pode te trazer grandes problemas se você não souber cobrar seu contador.

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Camila Bez

Jornalista especialista em contar histórias de superação. Feminista, sonha em criar um mundo mais igualitário e justo para as mulheres por meio da informação e do empoderamento econômico.

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