Entrevistas

Rosa Oliveira: “Empreender não é fácil, mas é uma deliciosa jornada”

Empreender sempre foi um sonho para Rosa Oliveira. A empreendedora de Santos, no litoral paulista, registrava este desejo até em seus diários, porém não encontrava uma oportunidade ou não tinha o investimento inicial, já que as condições financeiras eram limitadas.

Depois de cursar Publicidade e Propaganda e Gestão de Recursos Humanos sem completar, Rosa retomou os estudos neste ano e está estudando Marketing, uma das suas paixões. Rosa acumulou experiência trabalhando em bancos e nunca parou de fazer cursos de aperfeiçoamento. Mas depois de trabalhar em diversas instituições financeiras e estudar muito, ela foi demitida na crise de 2008 e decidiu finalmente tirar a empresa do papel com apenas R$ 500.”

Confira a íntegra deste bate papo, em que a empreendedora conta, com muitos detalhes, toda a sua trajetória profissional e como consegue conciliar maternidade e trabalho home office.

Voa, Maria: Quais empregos, experiências teve antes de decidir empreender?

Rosa: Meu primeiro emprego, ainda muito jovem, com 13 anos de idade foi em um Disk Fraldas. Num certo dia, acordei muito cedo e saí pelo bairro onde morava procurando vagas de emprego nos comércios da região. Foi então, que entrei em uma serralheria e pedi emprego. Um senhor que me atendeu me respondeu que não tinha emprego para mim na Serralheria, mas que havia uma vaga no seu Disk Fraldas. Como eu tinha consciência da minha pouca idade, ao ouvir aquela oferta naquele momento, interpretei que ele caçoava por eu ser muito jovem e imediatamente taquei-lhe um tapa na cara e saí correndo. A minha sorte foi que esse senhor foi até a minha casa conversar com minha mãe e disse que tinha gostado muito da minha ousadia, e que sim, tinha mesmo uma empresa de Disk Fraldas que estava começando, e que a vaga de secretária era minha. Nessa empresa fiquei até meus 16 anos, conciliando com trabalhos de palhaça e animadora de festas, que eu fazia aos finais de semana.

Passei pelo comércio, construção civil, escritório de advocacia e em uma assessoria jurídica e imobiliária. Em 2006, comecei a trabalhar numa financeira, como operadora comercial de microcrédito e desconto de cheques. Posteriormente fui para o setor de financiamento de veículos. A sede ficava em São Paulo, e meu trabalho de campo era em Santos. Foi uma experiencia muito gostosa, onde aprendi muito sobre as rotinas de crédito, tendo feito um job rotation pela empresa. Um ano depois fui para um banco Internacional, também como operadora comercial, nos mesmos moldes da financeira, onde fiquei até a crise dos bancos em 2008.

VM: Por que decidiu empreender?

Rosa: Fui demitida e minha primeira oportunidade de empreender surgiu. Fiz da minha demissão uma oportunidade para arriscar e começar a minha empresa, a Credmaxx, que futuramente, por questões de registro de marca, veio a se chamar Credmark, e aí está até hoje, 8 anos depois.

Comecei com pouco dinheiro, arrisquei muitas vezes, aprendi com erros, fui conquistando clientes e me tornando conhecida no mercado entre os melhores Correspondentes Bancários do País, e hoje tenho centenas de clientes fieis, que me acompanham todos esses anos e muitas parcerias sólidas e de sucesso, e esse número vem crescendo muito rápido nos últimos dois anos.

A empresa atravessou diversas fases, umas muito boas, outras muito ruins, e hoje, acompanhando as tendências do marketing digital, venho aperfeiçoando-a, enquanto navego numa estabilidade financeira que com muita luta consegui conquistar. Ainda não estou no patamar que planejo, mas me sinto feliz pelo que já conquistei.

Minha segunda oportunidade surgiu quando me tornei mãe em 2014. Realizei um grande sonho, ao qual, eu não sabia que tinha. Enquanto vivia as delícias e limitações que a maternidade naturalmente me impunha, percebia que era possível continuar meu trabalho como correspondente bancária, conciliando-o com as tarefas maternas, em plena harmonia. Bastava eu criar um método.

VM: Qual é a sua empresa e quais são os diferenciais dos seus produtos e/ ou serviços?

Rosa: A Credmark é uma empresa de soluções financeiras para pessoas físicas e jurídicas. Somos um correspondente bancário certificado pela ANEPS, com atuação desde 2008, tendo durante todos estes anos nos tornado especialista em crédito consignado. Queremos oferecer um serviço humanizado e personalista, sem deixar de usufruir da praticidade que o mundo digital oferece. Não queremos uma relação que passe pela porta giratória ou que se sustente por Wi-Fi.

Trabalhamos com crédito consignado, crédito para assalariados, cartões de crédito, financiamentos imobiliários e de outros bens, factoring e fomento mercantil. Frequentemente surgem novas linhas de crédito no mercado e nós procuramos oferecer o máximo de opções em nosso portfolio.

Também tenho o projeto Mamãe S/A, que O Mamãe S/A é um método sobre empreendedorismo criativo e materno, voltado para o mercado de crédito. E estou planejando uma empresa de cobrança e informações cadastrais, que deve ser lançada em 2017, ainda estou em fase de planejar, pesquisar e montar estratégias e parcerias.

VM: Como se preparou para investir no seu próprio negócio?

Rosa: Investi numa série de cursos de aperfeiçoamento, tive alguns conselhos de um guru de produtividade, li muitos livros e fiz muitas pesquisas. Particularmente, ainda não encontrei um profissional de coaching ou mentoria que tivesse me despertado interesse em investir. Atualmente, quando penso em investir no meu aperfeiçoamento, opto sempre por cursos online, porque me permitem ver, rever, aprender, revisar muitas vezes, e que esse conhecimento fica disponível sempre que eu precisar. Também invisto em livros sobre empreendedorismo e psicologia de finanças.

VM: Quais vantagens o empreendedorismo oferece?

Rosa: Empreender eu vejo como uma oportunidade de liberdade real. Liberdade em termos de horário, de localização, de poder usar a criatividade sem ressalvas, ter mais lucro, aprender todos os dias com erros e acertos, e não ter limites. Eu nunca gostei de cumprir horário, sempre tive essa dificuldade nas empresas em que trabalhei. Chegava atrasada, recebia reclamações dos meus chefes, obviamente, mas quando sentava para começar a trabalhar eu produzia muito. Eu sempre pensava nisso, nos resultados que eu criava comparados aos 15 minutos de atraso que tinham mais peso do que minha produção em si e isso me cansava. Não gostava e não gosto de me ver engessada, gosto muito de liberdade. E o empreendedorismo me proporcionou ter liberdade, além da satisfação pessoal por ter realizado um sonho, claro.

VM: Como sua vida mudou desde que decidiu empreender?

Rosa: Tiveram dois momentos. Um em 2008 que foi quando eu comecei a sentir o gosto de ser dona, de ter meus próprios clientes e sentir o carinho a retribuição deles, passei a ganhar mais, a ter mais tempo para fazer outras coisas, como viajar, estudar, passear. E outro momento em 2014, quando engravidei, que foi quando eu fechei meu escritório e passei a trabalhar em home office. Aí, minha vida mudou mesmo. Hoje, além de ter tudo o que eu já tinha com a empresa num escritório físico, tenho a valiosa possibilidade de estar perto da minha filha, de poder cuidar da minha casa, dos meus negócios, e poder carregar meu trabalho na mochila quando decido viajar.

O fato de eu ter mudado minha empresa para home office me obrigou a transformá-la em uma empresa online, e aí, meus negócios simplesmente aumentaram muito. Hoje o volume de clientes, e consequentemente meu lucro é bem maior. Seu eu já amava empreender, passei a amar ainda mais depois que passei a empreender em casa.

VM: Quais são os desafios para consolidar o seu negócio?

Rosa: Os maiores desafios são voltados para produtividade. O fato de trabalhar em casa me proporcionou viver melhor as pequenas coisas da vida, como curtir mais a minha família. Como eu criei um método que deu certo e decidi compartilhar esse conhecimento com outras mães ao criar o Mamãe S/A, hoje eu tenho que me dividir entre estes dois projetos, e mais a minha casa e minha filha. Sem contar que estou montando o terceiro projeto. Então se eu conseguir afinar a minha produtividade em todas as minhas tarefas e realizações, com certeza estarei vencendo um grande desafio.

VM: Qual foi o seu capital inicial e como conseguiu levantá-lo?

Rosa: Foi muito pouco, menos de R$ 500,00. Comecei dividindo minha empresa com um escritório de advocacia, o que barateava os custos. Eu ficava na recepção, ajudando os advogados com o atendimento, enquanto exercia minhas atividades iniciais da empresa e atendia meus primeiros clientes. Com o tempo fui conquistando clientes, experiência, e já com um capital melhor consegui alugar meu escritório sozinha e mobiliá-lo, mas nunca fiz grandes investimentos. Inclusive, eu defendo que é possível começar um negócio com pouco capital, e muitas vezes, as pessoas desistem de empreender porque não precificam seus sonhos e não sabem ao certo quanto precisariam investir para abrir seu negócio. Muitas vezes o valor nem é tão alto. Existe muita gente com talento para empreender, que não começa porque não sabe quanto custa seu sonho.

VM: Quais dicas daria às outras mulheres que sonham em ter o próprio negócio?

Rosa: Comecem. Façam um plano de negócios, um plano de marketing, tracem estratégias e deem o primeiro passo. Hoje o home office está em alta, é muito fácil começar um negócio em casa. Você trabalhar em casa é uma oportunidade de não pagar aluguel, e você pode usar os recursos que já tem, como internet, luz, espaço. Você vai precisar de um site, mas não precisa gastar uma fortuna com um webmaster para fazer o seu. Se você investir em um curso barato de marketing digital como eu fiz, você aprender a fazer tudo. Desde a criação da sua logo até colocar o site no Google. E um conselho que dou pra quem quer empreender é que não tenha medo de aprender o que não sabe. Se você se limitar a dizer sempre, isso não sei, aquilo não sei, você não fará nada. Quem quer empreender tem que por a mão na massa. E saber vender. Se não sabe, tem que aprender.

VM: Qual é o seu sonho?

Rosa: Bom, tenho sonhos a todo momento. Sou bastante inquieta nesse sentido. Hoje um grande sonho é fazer o projeto Mamãe S/A acontecer e ser concretizado por meio de muitas mulheres empreendendo por meio dele. Também venho sonhando com uma faculdade de economia. Sempre quis ser economista, mas fui adiando os planos. Não sei se são sonhos ou metas, mas o fato é que são coisas que me fazem voar.

Camila Bez

Jornalista especialista em contar histórias de superação. Feminista, sonha em criar um mundo mais igualitário e justo para as mulheres por meio da informação e do empoderamento econômico.

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