Entrevistas

Trabalhar no mesmo ambiente que os filhos? A Fernanda Torres consegue

A maternidade foi um grande divisor de águas na vida de Fernanda Torres. Isso porque a psicóloga de formação, que clinicava e atuava no mundo corporativo, considerou novas possibilidades após nascimento de Lívia, sua primeira filha. “Depois de 12 anos de atuação no mercado, não fazia mais sentido voltar ao mercado de trabalho porque meu marido e a babá que ficavam em casa com ela. Por isso, pedi demissão e a ideia era viajar antes de conseguir um novo trabalho”, pontua.

Porém, em vez de se reinserir no mercado de trabalho, Fernanda tocava uma agência de eventos por hobby ao lado da irmã. E, em 2008, decidiu entrar de cabeça no negócio para ter uma rotina mais flexível e poder trabalhar em casa. “Coloquei minha filha na escolinha com quatro anos. Mas quando soube que teria mais um bebê, o Théo, pensei em como iria fazer. Foi aí que surgiu a ideia de pesquisar um coworking que aceitasse crianças”, lembra.
Um novo modelo de negócio

O primeiro passo de Fernanda foi pesquisar espaços, momento em que percebeu que o conceito de um coworking que também recebesse filhos pequenas era quase inédita no mercado. Ela encontrou apenas a Casa de Viver, que era um projeto de Carina Borrego. “Brinco que fui a primeira cliente da minha sócia”, pontua Fernanda.

Assim, em fevereiro de 2015, as meninas investiram no negócio, que hoje tem o primeiro andar estruturado para crianças de seis a quase quatro anos, enquanto o andar superior é o espaço para que os pais trabalhem, produzam e evoluam profissionalmente. “Os pais têm livre acesso ao espaço das crianças, que é supervisionado por quatro cuidadoras. As mães conseguem manter a amamentação e podem estar mais presentes no dia a dia dos bebês. Recebemos ainda crianças maiores no contra turno da escola, em que contamos com a sala ‘Coworkinho’, em que eles fazem tarefas escolares, e também fazem brincadeiras ao ar livre”, descreve a empreendedora.

Desafios e sonhos

Para Fernanda, o melhor benefício por ter abraçado os próprios negócios foi ter a possibilidade de estar mais presente na criação dos dois filhos e também ser dona da própria agenda, para cumprir tarefas do dia a dia, como ir ao médico ou banco, sem dar justificativa para chefes. “Também não tenho mais de encarar trânsito”, observa.

Mas nem toda a trajetória empreendedora foi simples, especialmente nos primeiros momentos em que a mulher decide abrir um empreendimento. “O lado ruim de ter o próprio negócio é me adaptar à instabilidade. Quando você é CLT, sabe o quanto vai receber, ganha bônus, 13º e tudo mais. Os empreendedores não. E também passamos, minha sócia e eu, quase dois anos fazendo tudo, tudo, tudo. Era marketing, financeiro, receber clientes e também fazer faxina, porque não tínhamos dinheiro para contratar. ”

Fernanda conta que ainda supera desafios para consolidar o sonho de expandir as unidades da Casa de Viver e ter um coworking em cada região da cidade de São Paulo. “A outra dificuldade muito forte que sinto é que não tenho crédito algum com banco ou investidor. Com a agência de eventos, que já está no mercado há anos, consigo crédito com o pé nas costas. Mas para a Casa de Viver, o negócio tem que se mostrar escalável”, ressalta.

Por fim, para quem quer investir em uma empresa, Fernanda questiona o motivo pelo qual o aspirante quer ser empreendedor. “Tem gente que responde que é para trabalhar menos. Então aconselho a não abrir a empresa, porque a nossa responsabilidade enquanto dono só aumenta e a vida social também fica muito atrelada ao negócio.”

 

Camila Bez

Jornalista especialista em contar histórias de superação. Feminista, sonha em criar um mundo mais igualitário e justo para as mulheres por meio da informação e do empoderamento econômico.

Você também vai gostar de

Posts populares

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *