Entrevistas

A Fernanda e Demi em cada uma de nós

A esta altura, você já sabe que a atriz Fernanda Torres conquistou o feito histórico ao ganhar o inédito Globo de Ouro de Melhor Atriz de Drama no último domingo (5). 

Eu mesma já vi o discurso dela umas 50 vezes, pelo menos, ao longo do dia. E me emocionei em cada um delas, especialmente porque ela chama a atenção para um fato comum à grande maioria das mulheres: a descrença em si. 

Fernanda inicia seus agradecimentos dizendo que estava feliz com a indicação e que não preparou o que dizer caso seu nome fosse anunciado. 

https://twitter.com/i/status/1876229684310233333

Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, a atriz desacreditou totalmente da sua capacidade e contexto, apesar da família artística e dos seus mais de 45 anos de carreira, trajetória em que venceu, inclusive, um prêmio do Festival de Cannes. 

“A chance de alguém falando português levar um prêmio desse tamanho é praticamente nula. Só de estar indicada para uma categoria incrível, de atriz em drama, eu já estoure o meu champanhe. Então, amanhã vou para lá com uma sensação de dever cumprido”, opinou. 

O que seria preciso para que a atriz brasileira acreditasse no próprio potencial? É claro que entendo que estes prêmios internacionais giram em torno da indústria hollywoodiana e que, por muitos anos, tudo girou apenas em torno das produções norte-americanas.

Mas mesmo assim, ela tem um talento fora do comum e poderia se sentir digna de tal reconhecimento. 

Assim como a Fernanda Torres, a grande maioria das mulheres não acredita em si mesmas, de que são capazes de conquistarem aquilo que almejam, que não estão (e nunca estarão) preparadas para suas conquistas e até mesmo que são merecedoras de tanto. Assim, se dão por satisfeitas apenas por trilhar o processo.

Demi Moore, vencedora do Globo de Ouro de Melhor Atriz de Comédia, também ressaltou este sentimento de não merecimento e fraude. 

“Há 30 anos, um produtor me disse que eu era uma atriz de filme de pipoca e, na época, interpretei isso como se eu não tivesse o direito de conquistar algo mais. Que eu poderia fazer filmes de sucesso e ganhar muito dinheiro, mas não poderia ser reconhecida… e eu acreditei nisso. E isso me corroeu com o tempo, a ponto de eu pensar, alguns anos atrás, que talvez já tivesse feito o que deveria fazer. E quando eu estava em um momento difícil, recebi um roteiro mágico, ousado, corajoso e absolutamente fora da caixa, chamado ‘A Substância’, e o universo me disse que eu ainda não estava pronta”, afirmou a atriz.

https://twitter.com/i/status/1876121016541601864

Quem diria que a uma das atrizes mais populares da indústria cinematográfica, aos 62 anos, guardasse tais sentimentos. 

Chega ser um pouco triste ver mulheres tão talentosas duvidando se si mesmas em um mundo em que ignorantes ditam regras absolutamente sem nexo e ainda lucram absurdos com isso. 

Mas também é de vital importância celebrar a conquista de Demi, especialmente por se tratar da vitória de uma mulher de 62 anos, quando tantos imbecis propagam por aí que mulheres a partir dos 30 não têm mais valor, seja no trabalho, em relacionamentos ou mesmo na aparência. É como se fôssemos descartáveis, mas Demi mostrou que não.

Espero que o legado deste Globo de Ouro, tanto quanto celebrar a obra das Fernandas (a Torres e a Montenegro) e valorizar cada dia mais a cultura e o talento brasileiro, seja também mostrar a todas as mulheres que somos, sim, capazes e podemos conquistar o que quisermos. Já Demi Moore nos prova que podemos fazê-lo a qualquer momento. 

Confie em você, Maria.

LEIA TAMBÉM:

Camila Bez

Jornalista especialista em contar histórias de superação. Feminista, sonha em criar um mundo mais igualitário e justo para as mulheres por meio da informação e do empoderamento econômico.

Você também vai gostar de

Posts populares