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De dívida milionária para o sucesso: conheça a superação de Paola Carosella

Cozinheira. É assim que a renomada chef Paola Carossela se definiu modestamente durante sua apresentação no Day 1, evento promovido pela Endeavor. Afinal, foi na cozinha que ela viveu alguns dos momentos mais felizes da sua infância, quando lembra dos banquetes na casa da avó, dos cheiros e da alegria de uma mesa farta compartilhada com a grande família de origem italiana, sediada na Argentina. Também foi na cozinha que Paola superou a solidão da adolescência, quando dividia um apartamento apenas com a mãe, época em que ela transformava poucos ingredientes em diversos pratos.

Não havia outro caminho a não ser investir na gastronomia como carreira. “Fiz estágios em Paris, Londres. Depois de dez anos de muito trabalho, decidi abrir meu restaurante”, contou ela no evento que reuniu empreendedores de destaque na noite de ontem.

Fez estágios em paris, Londres. Depois de 10 anos de muito trabalho, decidiu abrir o restaurante. Tinha uma pequena herança, pois perdeu a mãe quando tinha 26 anos e o pai aos 28. “Investi no Brasil. Era 2001 e meu último ano como cozinheira. Já tinha feito um ano de trabalho no Figueira Rubaiyat. Não falava a língua, não conhecia ninguém, não ia ser fácil. Vendi tudo o que tinha, que somou R$ 500 mil, que era o suficiente para conseguir um visto de investidor. Mas como empresária, fui uma excelente cozinheira”, lembra.

A primeira tentativa de empreender foi o restaurante Julia, que, de acordo com a chef argentina foi um sucesso. Porém, a sociedade ruiu após alguns anos de trabalho. “A confiança se quebrou e parei de acreditar no meu sócio e de que a sociedade iria além. Mas tive muita sorte, porque o pai da pessoa foi nobre e comprou a minha parte na sociedade. Ele me devolveu o mesmo valor que eu tinha investido”, continua.

Segunda tentativa

Após a experiência de escolher um sócio errado, Paola então investiu em uma parceria com sete sócios argentinos. Foi assim que nasceu o Arturito. “Eram ótimas pessoas, mas com ideias diferentes. Eu queria algo grandioso, algo branco e acabei em uma boate, aquele restaurante escuro e com música longe. O restaurante deu certo por alguns anos, mas eu não gostava do que estava fazendo e não acreditava na proposta. Não acreditava na história da gastronomia ser tão densa, de ter 14 maîtres que demoravam quatro horas para explicar de onde vinha a comida. Eu queria servir comida. Mas a gente não chegava em um acordo. O restaurante faturava. Ninguém estava a fim de me ouvir.”

Paola tinha então 40 anos e precisava tomar uma decisão. Sentia-se frustrada pelo restaurante que estava quase falindo, estava em um relacionamento também falido e morava no cheque especial, além da responsabilidade de cuidar da filha de apenas dois anos. “Desci para o meu escritório. Estava cansada de ser infeliz. Peguei duas folhas de papel, escrevi hoje e dois anos. Sentei no chão e escrevi onde estou hoje e onde quero estar daqui a dois anos. Quando levantei do chão, tinha quatro certezas: eu vou morrer um dia, não sou feliz com a vida que tenho, preciso fazer alguma coisa por mim, porque ninguém vai fazê-lo, e sou cozinheira”, conta.

Com as quatro certezas, ela então pegou um empréstimo de R$ 2 milhões e negociou com os sócios. “A garantia era eu mesma, porque se fosse preciso, trabalharia 700 horas por dia. Quando finalmente comprei o restaurante, encontrei um restaurante com menos clientes e faturamento super arriscado. Eu tinha 40 funcionários que olhavam para mim, perguntando o que eu ia fazer.”

Reviravolta

Paola então virou um “polvo”. Administrava a empresa e cozinhava às sextas, estratégia que atraiu executivos, fez com que eles divulgassem o estabelecimento e fizesse o Arturito “florescer”.

A chef também criou o Projeto Empanadas, em que a ideia era comercializar empanadas salteñas. “Um dia apareceu uma pessoa que me recompensou. Soube olhar os lugares certos e fazer as perguntas certas para ter certeza do sócio que eu precisava ter. Então, em 2014, Benny [Goldemberg] e eu tiramos o La Guapa do papel para fazer a loja. Tenho um contrato de vida com ele, porque o Benny fez minha arte ser um negócio. Sem arte, sem romance, não existe negócio”, emocionou-se.

Mais que a dívida paga, hoje o faturamento dos restaurantes de Paola aumentaram exponencialmente, fora a confiança de que ela é capaz de conquistar os objetivos que almeja. “Hoje tenha uma certeza a mais do que já tinha, de que consigo traçar o destino da minha vida. Tenho a riqueza de olhar para trás e saber que consegui fazer e olhar para frente e saber que o sonho não tem limite e que não vou parar”, concluiu.

 

Camila Bez

Jornalista especialista em contar histórias de superação. Feminista, sonha em criar um mundo mais igualitário e justo para as mulheres por meio da informação e do empoderamento econômico.

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