Entrevistas

Com espaço de arte, Marília Goes forma artistas empreendedores

Marília Goes tinha o seguinte sonho: quando tivesse 40 ou 50 anos, abriria uma escola de arte com seu nome – feito que seria fruto de uma carreira consolidada como atriz de teatro. Porém, a jovem de 24 anos teve de antecipar o sonho diante da falta de perspectiva de carreira disponível aos artistas brasileiros.

Antes de empreender, atriz somou passagens pela produção de standups e do Cirque de Soleil, além de já ter uma certa estabilidade na carreira. “Sempre soube o que queria. Na faculdade, conquistei dois diplomas: o de bacharelado e licenciatura. Me apaixonei pela ideia de licenciatura e educação, tanto que decidi investir em uma pós-graduação em história da arte. Até estava em uma companhia, bem colocada como atriz, mas quando contei para a minha diretora sobre a pós, ela me pôs na parede. Ou a pós, ou a companhia. Escolhi a educação.”

Foi assim que, ao lado do sócio e noivo (com quem ela sobe ao altar ainda este mês) Júnior Medeiros, surgiu o Espaço Vivartte, escola para artistas que tem como proposta oferecer diversos cursos aos artistas brasileiros, especialmente consultorias de gestão de carreira. “O projeto nasceu em 2015, em que a ideia era fazer uma escola de arte para pesquisa. Mas a gente conseguiu perceber uma questão mais séria: o artista  não sabe o que fazer quando se forma. Uma pesquisa indica que 80% de pessoas que se formavam em teatro não sabiam como se colocar no mercado”, revela.

Ousadia

Mas assim como grande parte das produções culturais e pequenas empresas, Marília e o sócio não tinham capital de giro. Na verdade tinham dívidas, como ela se diverte ao lembrar. Porém, os sócios se mostraram persistentes, ponto que foi essencial para a consolidação do empreendimento. “Em julho de 2015, conversamos com artistas, para saber o que eles esperavam. Não tínhamos estúdio, espaço, nada. E mesmo assim abrimos as matrículas. Pedimos a sala emprestada de um hotel em que meu pai trabalhava para fazer as matrículas. Acreditamos que os clientes seriam os nossos melhores investidores. Em outubro daquele ano, quando recebemos o nosso primeiro aluno, selamos o compromisso de fazer a escola acontecer.”

Se valeu a pena correr o risco? Marília conta que sim. Desde janeiro do ano passado, quando eles inauguraram a escola, 105 alunos já passaram pelas formações. “O projeto amadureceu muito. Hoje temos 10 professores. Cada aluno paga uma mensalidade de R$ 450 e pode participar dos nossos 16 cursos, que englobam o universo artístico. O aluno tem ainda a consultoria de carreira, em que o ensinamos a ganhar dinheiro e planejar o tempo – conhecimentos que as demais escolas de arte não ensinam e eu senti falta quando me vi no mercado”, acrescenta.

Outro desafio é empreender nas áreas artística e educacional, ambas pouco valorizadas no Brasil. “Preciso colocar o cara na linha o tempo inteiro, incentivá-lo. Preciso mostrar que são áreas que precisam ser levadas a sério. Mas hoje sou uma tia dos alunos. Conheço cada um por nome e sei quais são as necessidades de cada um. Assumi a responsabilidade de fazer o aluno acontecer.”

Mais que propósito, a atriz e empreendedora acredita na ação social que as artes podem ter a nível social e trabalha também pela mudança artística do País – missão que ela descreve como de formiguinha, pois se inicia no estímulo a cultura a partir dos bairros. Porém, a visão da empreendedora de Marília vai além: assume ter a ambição de ter 500 escolas e também a vontade de que todos os artistas brasileiros passem pelo Espaço Vivartte de alguma forma, seja em formação ou em palestras. Para este ano, Marília já planeja a abertura da segunda unidade, pois a quantidade de alunos que ela tem hoje quase supera a capacidade de atendimento.

Camila Bez

Jornalista especialista em contar histórias de superação. Feminista, sonha em criar um mundo mais igualitário e justo para as mulheres por meio da informação e do empoderamento econômico.

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