Entrevistas Moda

Fabricação de roupas de inverno no Nordeste? Júlia Evangelista mostra que sim!

O iglu (como as sócias chamam a loja física) da Oficina de Inverno, instalado em uma famosa avenida de Fortaleza, no Ceará, chama atenção do público. Afinal, estas empreendedoras sabem que quase não faz frio no Nordeste brasileiro? Elas sabem sim. Sabem tanto que foi exatamente por isso que elas criaram um novo conceito de loja e marca para os nordestinos.

Júlia Evangelista, bacharel em Direito e Administração, conta que viajar sempre esteve no DNA de sua família. Aos nove anos, ela fez um intercâmbio com os pais e irmãs na Nova Zelândia, onde acabaram morando por um ano. “Também fiz intercâmbio na França, Espanha e Estados Unidos, onde também estagiei no Burger King por três meses. Investi muito em estudo porque coloquei na cabeça que queria ser trainee de uma multinacional, que era o ‘tchan’ de quem cursava administração”, lembra.

Porém, nem a carreira em tribunais de Justiça, nem as experiências em empresas convenceram a jovem, que hoje tem 27 anos, de que carreira pública ou corporativa a satisfariam. “Tudo que eles falavam no Burger King, eu pensava: ‘Nossa, isso aqui é ótimo para quando eu tiver a minha própria empresa.’”

E depois dos intercâmbios no exterior e de morar em Belo Horizonte para estudar, Julia voltou para Teresina, no Piauí, sua terra natal. Mas as voltas às origens não se resumiu ao território.

Negócio de família

A jovem empreendedora conta que moda e varejo sempre fez parte de sua vida, já que a mãe tinha uma loja de roupas, tanto que ela cresceu dentro do estabelecimento. “O nosso berço ficava no estoque”, diverte-se Julia, que começou a trabalhar com desenvolvimento da marca própria da mãe.

“Quando eu pensei em montar uma loja, aconteceu algo irônico: minha família sempre teve dificuldade de achar roupas de frio para comprar para viagens”, continua Júlia. “As pessoas pensaram que eu tinha enlouquecido. Diziam: ‘Ela tem tanto estudo, achava que essa menina ia dar certo na vida e ela inventa uma marca de roupas para inverno no Piauí.’”

Mas para tornar a ideia em realidade, a empreendedora aplicou o dinheiro que juntava desde os 14 anos, já com a intenção de abrir uma empresa. “Também juntei o dinheiro da minha irmã, Mariá, que é minha sócia. Com recursos próprios, montamos a loja online, porque inicialmente não teríamos capital e volume de vendas para sustentar uma loja física. Fizemos ainda um planejamento para investir com o pior cenário possível. Meus pais são pacientes, pois transformamos a nossa sala em um estoque e íamos aos Correios todos os dias.”

Aos poucos, a Oficina de Inverno foi crescendo, tanto que a estagiária contratada pela dupla já foi efetivada. E as meninas estão conseguindo também aumentar sua presença física, já que o iglu experimental, aberto em novembro para funcionar durante três meses em Fortaleza, teve seu contrato de locação renovado. “Nosso foco é o público nordestino, enquanto o lema é que o piauiense não vai passar frio no exterior. Hoje 60% das nossas vendas são para o Sudeste, porque o nordestino compra pouco no online. Então, para atingi-lo, sabíamos que a gente não poderia focar só no online”, observa a empreendedora, que por estratégia, se mudou para Fortaleza.

Obstáculos

Todos os produtos da Oficina de Inverno apresentam a tag “feito com o calor do Brasil”. Porém, produzir roupas de inverno no Nordeste o ano todo é um obstáculo para as empreendedoras, que presam pela produção nacional e fabricada a preços justos. No entanto, por trabalhar com fornecedores terceirizados, estes revezam a produção entre moda inverno e verão.

Outra adaptação pela qual as donas da empresa tiveram de passar foi o reposicionamento da marca. “Definimos como nosso público o jovem nordestino. Mas quando o site começou a rodar, vimos que o público consumidor era do Sudeste e mais velho. Tivemos de rever banner, estoque e posicionamento”, conta.

Mas uma característica forte da empresa é a identidade, que além de ser personalizada com ícones do inverno glacial (o logo da loja é um mamute), as meninas apostam em atendimento personalizado, que mais se aproxima de uma consultoria. “Aconselho as empreendedoras a criarem uma identidade, pois é ela que  nos diferencia do mercado. Já existem todos os tipos de produto no mercado, mas o cliente tem que ver a sua empresa como a mais legal que as outras.”

Camila Bez

Jornalista especialista em contar histórias de superação. Feminista, sonha em criar um mundo mais igualitário e justo para as mulheres por meio da informação e do empoderamento econômico.

Você também vai gostar de

Posts populares

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *