O principal objetivo de Valéria Almeida é construir uma vida melhor para ela e para os três filhos. Porém, ela não trabalha apenas em prol da própria família, mas também pela consciência ecológica de todo o seu bairro em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro. Por isso, ela produz sabão de todo tipo, produto do qual tira o seu sustento e que também doa para ONGs ou pessoas que precisem.
Valéria sempre foi diarista, mas, quando o caçula tinha apenas seis meses, o marido foi assassinado. Assim, ela teve de criar os filhos sozinha e, para tanto, saía de casa às 5h e voltava apenas à 1h. “Saia cedo de casa e voltava tarde da noite. Quando não tinha trabalho como diarista, vendia cachorro quente na rua, vendia doces e salgados. Vendia de tudo para poder sustentar a casa”, lembra ela.
Diante da dificuldade de conciliar trabalho e família, ela investiu em um curso de Personal Organizer no Senac e também em formação em empreendedorismo no Sebrae, a fim de criar seu próprio negócio. Porém, a saúde começou a dar sinais de que, além de diminuir o ritmo, ela precisava de mais qualidade de vida e propósito. “Tinha labirintite, quase desmaiava quando pegava o trem no caminho do trabalho. Por isso, troquei um emprego de R$ 2 mil como personal para acreditar em mim”.
Inovação na cozinha
Desempregada, há dois meses Valéria pediu R$ 10 emprestado à irmã para comprar bicarbonato e embalagem para produzir sabão a fim de vendê-los. E a investida deu certo. Ela somou a experiência de anos na limpeza de residências com a dedicação intensa para aprender novas fórmulas e, assim, conseguiu criar mais de 50 tipos de sabão, entre produto para lavar roupa, limpar a casa e até para dar banho em animais. “Levei dois anos para chegar onde estou. Da meia-noite às 3h, fico no computador buscando fórmula. Não posso parar e não assisto televisão. Ou estou produzindo, ou estou estudando. Televisão é ociosidade”, pontua a empreendedora que usa a internet ainda para fazer coaching e cursos online. “Sou pequena, mas me misturando com pessoas grandes para aprender a fazer. Pedreiro que anda com pedreiro nunca vai ser arquiteto.”
Uma vez prontos e perfeitamente embalados, ela vai de porta em porta vender seus produtos. Os filhos também entraram no negócio: vendem o sabão no trabalho, a familiares e amigos e até no caminho à empresa onde trabalham. “Tô feliz da vida, vou de porta em porta, troco meus produtos de limpeza por óleo usado. Além disso, levo conhecimento e consciência ecológica para as pessoas da comunidade [um litro de óleo jogado no esgoto contamina até 20 mil litros de água potável]”, comemora.
Preocupação ambiental
De fato, Valéria tem provocado uma pequena revolução. Ela ganha quase toda matéria-prima que precisa, como óleo usado e papelão para guardar os produtos, de lojas e restaurantes do bairro. Em contrapartida, ela também faz o bem: vende seus produtos a preços acessíveis e até faz doações a uma ONG que cuida de moradores de rua. “Para mim não é só vender, mas trabalhar com o que amo. Hoje sou mais feliz do que quando trabalhava como personal.”
Para quem está começando, Valéria dá várias dicas. Além da dedicação em aprender técnicas novas todos os dias, a empreendedora carioca ressalta a importância ainda de buscar excelência em tudo que faz e não ter vergonha de ir à luta para vender seus produtos ou serviços. E ainda observa. “Tem muitas empresas que podem te dar matéria-prima. Posso listar umas 50 dicas de como começar um negócio simples com muito pouco. Hoje, se não estivesse na saboaria, abriria uma empresa de doces, a partir de uma simples receita de bala de coco.”