Para a grande maioria dos empreendedores, como a empresa estará daqui a cinco anos é uma grande incógnita. Mas Raquel Queiroz tem esta resposta na ponta da língua: em quatro anos, ela conseguirá comprar o espaço físico para abrir a loja da Quel Arteira, onde poderá expor o trabalho artesanal de produtoras de Mogi das Cruzes, em São Paulo, e também promover cursos de capacitação para quem enxerga no artesanato um ramo para construir o próprio negócio.
“Meu maior sonho é conseguir mostrar às pessoas que elas são capazes de alcançar seus objetivos e os seus maiores sonhos. Nos próximos quatro anos [até comprar a loja], não vou ficar parada. Vou me capacitar e aprimorar minhas técnicas, pois quero que as pessoas vislumbrem a qualidade de vida que o artesanato e o empreendedorismo podem proporcionar para todo mundo”, pontua a paulista.
Primeiros pontos
Aos 41 anos, Raquel é técnica em secretariado e também graduada em jornalismo e pedagogia. Mas não atuou nestes segmentos. Já o artesanato surgiu na vida dela há 20 anos, época em que investiu em seus primeiros cursos. “Trabalhava em uma livraria e a minha vida era casa-trabalho, trabalho-casa. De férias, passei em frente a uma loja da cidade que oferecia capacitações desde que você comprasse o material lá. Como sempre gostei de consumir artesanato, por ser um produto exclusivo, me matriculei. Desde então não parei mais de investir no segmento e também de comercializar minhas peças”, conta.
Mesmo com muitas encomendas, Raquel optou por continuar no mercado de trabalho. “O objetivo é trabalhar definitivamente com artesanato. Sempre tive em mente a ideia de abrir o meu espaço, mas não conseguia visualizar como. Mas agora consegui fazer um plano de ação em que eu consegui organizar para viabilizar este sonho. É do mercado que vem o rendimento que, juntando com a renda do artesanato, vai garantir a aquisição do meu imóvel.”
Mais que planejamento, Raquel teve de se reeducar para levantar, mês a mês, o capital necessário para comprar sua loja. Ela conta que teve de mudar o estilo de vida e até abrir mão de alguns gastos para se manter dentro da meta. “Vou adquirir o imóvel para que a empresa tenha apenas ativos, não passivos [financeiros]”, justifica.
Valorização
Raquel pontua que os principais benefícios de ser artesã é exercer sua criatividade, tendo em vista que cada encomenda é personalizada e, por isso, ela tem de se reciclar sempre. No entanto, ela também tem de lidar constantemente com a desvalorização do trabalho artesanal, que no senso comum ainda é visto como alternativa ao ofício formal, não como profissão. “Quando a pessoa quer que o artesanato vire ofício, ela tem poucas ferramentas para transformar a atividade em um negócio sério”, ressalta.
Assim, uma das grandes missões de Raquel é promover o reconhecimento dos profissionais da área. “O cliente que realmente consome o artesanato vai pagar o que a peça vale, porque ele já procura o trabalho pela qualidade. Caso contrário, ele vai a uma loja de R$ 1,99.”
E para as mulheres que desejam viver de artesanato, Raquel recomenda que elas aprendam a precificar seus produtos. “Não concordo com tabelas que indicam que o preço final é o custo do material multiplicado por três. Uma regata de crochê, neste caso, deveria custar R$ 40, R$ 45, mas o trabalho é imenso. Já uma nécessaire posso produzir em 30 minutos, mas apenas o metro do tecido custa R$ 25. Então, o custo e o preço final são muito relativos. Porém, só aceito encomendas com o pagamento adiantado de 50%, pois assim não perco o produto [em caso de calote]”, ensina.
Já para vender os produtos, versatilidade é segredo do sucesso. A artesã deve expor suas peças em todas as frentes possíveis: bazares, internet, redes sociais e até lojas colaborativas. “Mesmo assim, o maior canal de vendas é o boca a boca. Toda vez que entrego um produto meu, duas ou três pessoas me procuram para encomendar novas peças.”