Alice Oliveira nunca sonhou com o glamour da fama. Mas queria, sim, ser reconhecida. Por isso, ela investiu em uma graduação em Letras e, apesar de trabalhar como professora e secretária bilíngue – função, aliás, em que facilmente era promovida a cargos de liderança – por 15 anos, seus talentos e esforços eram pouco percebidos.
A saída, então, era encontrar a satisfação pessoal no seu maior hobby: o crochê. “Gostava de dar aula, mas nunca vi reconhecimento. Ao final do dia, o reconhecimento mesmo era o crochê”, conta ela.
De saco cheio, ela desistiu da história de ficar rica. “Queria ser rica de felicidade. Deixei a carreira de secretária bilíngue, joguei tudo para o alto e resolvi investir em uma lojinha no quintal da minha casa”, lembra a artesã, que em 1995, ainda morava em Osasco, na Grande São Paulo.
A decisão, claro, não foi bem aceita por muita gente. Alice ouviu que era muito nova para fazer crochê, que não tinha futuro e que ela estava desistindo, entre outros elogios. “Tentei trabalhar com confecções e apresentar projetos, criações minhas. Mas os donos ficavam surpresos por ver uma pessoa nova e articulada fazendo crochê. Me sentia um peixe fora d’água.”
Primeiros cliques na web
A empreendedora nunca achou que ganhava dinheiro com sua arte. O faturamento era suficiente para manter a loja, pagar as contas e não ficar devendo ninguém. Contudo, a loja tinha um diferencial muito significativo: tornou-se ponto de referência das clientes. “A mulherada se encontrava para conversar, trocar receitas e eu as ensinava. Acontecia até de ter mulheres dependentes do marido, que aprenderam a fazer peças e comercializá-las, mudando assim suas perspectivas”, orgulha-se Alice. “Pois quando você nasce para ensinar, independe a matéria. É uma forma de eternizar o que ensino. O lado gostoso da docência é este”, emenda.
Já em 2000, a empreendedora arteira foi apresentada à internet. Mesmo sem as redes sociais, ela se inseriu em comunidades de artesanato e, graças aos contatos e à visibilidade, ela ganhou cada vez mais notoriedade na rede mundial de computadores. E então, começou a receber convites para dar entrevistas em rádio e expor seus trabalhos em revistas. Oito anos depois, no entanto, ela teve problemas pessoais e decidi fechar a loja para se dedicar à família.
Recomeço virtual
Mesmo sem a loja, Alice nunca deixou o crochê, pois mantinha um blog com dicas e passo a passo dos trabalhos. Há quatro anos, ela passou por mais uma mudança radical: casou-se e trocou a Grande São Paulo pela Praia Grande, no litoral paulista. “Logo pensei em procurar outro jeito de montar uma nova loja. Mas meu marido viu o blog e me incentivou a postar mais, porque aquilo dava dinheiro. A partir daí, fui me inteirando mais sobre aquela possibilidade.”
Ainda com dificuldade em conciliar as atividades de uma loja e os cuidados com os pais que moram com ela, a artesã então passo a produzir aulas em vídeo. “Quando me falaram que dava para monetizar com vídeos, percebi que era a junção perfeita do bom e do melhor ainda! Quando monetizei, notei que se eu transformasse as aulas em uma rotina de trabalho, poderia ter uma fonte de renda”, diz.
Graças à assiduidade e à qualidade do conteúdo (ela ensina até pontos para destros e canhotos), Alice Arteira recebeu recentemente a plaquinha de prata do Youtube por somar mais de 100 seguidores. Na verdade, o público já soma mais de 130 mil inscritos no canal. Tanta visibilidade resulta em encomendas e retorno no AdSense.
O próximo desafio de Alice agora são aprender a rentabilizar ainda mais o canal, desde que ela não perca sua identidade e liberdade, pois quer sempre ensinar seu público a trabalhar com os melhores materiais. Mas o sonho mesmo é voltar a ter uma loja física, que sirva como canal de vendas, ateliê e, claro, ponto de encontro das clientes.