Para Natali Gutierrez, 27 anos, empreender é ter a liberdade de fazer coisas que nem todo mundo acredita. Foi assim que a paulistana formada em Marketing e Relações Públicas se descobriu uma grande vendedora, já que, insatisfeita com os valores presentes nas empresas em que trabalhou, ela passou a buscar alternativas em que pudesse criar o seu próprio estilo de vida e de empresa.
“Detesto machismo, desacredito em entrar em um horário e sair em um horário, usar salto e tudo aquilo que não te representa [nas companhias em geral]. Sou uma pessoa que acredita muito em um atendimento que encanta, mas jamais poderia aplicar isso numa empresa que não é minha, porque as pessoas querem ganhar dinheiro e ponto”, lembra.
Proprietária da Dona Coelha, Natali conta que a ideia de trabalhar com produtos eróticos partiu do marido. “Conversávamos muito sobre sexo e ele falou que eu era muito desprendida. Sugeriu que eu abrisse um blog. Foi então que comprei vários produtos de uma amiga e em uma semana consegui revender tudo e dobrei o que investimos. Falei: ‘Isso é incrível’. Entendi que tinha uma habilidade com vendas até então desconhecida”, diverte-se a empreendedora.
Início
Natali conta que começou seu negócio com apenas uma bolsa, em que levava produtos para o trabalho, a fim de vendê-los para as colegas. Hoje ela tem um escritório (que divide com uma amiga), é a protagonista do Canal Dona Coelha no Youtube, soma mais de cinco mil seguidores e ainda atende entre 200 e 300 clientes por mês, vindos das redes sociais, indicações dos amigos e compradores já fidelizados.
O segredo para crescer tanto em apenas dois anos e meio? Atendimento diferenciado e planejamento. “Estou muito saturada de ser mal atendida. Então, antes de abrir o meu sex shop e me dedicar exclusivamente a ele, fui a vários sex shops para ver o que eu não queria fazer na minha loja”, diz.
Uma das conclusões que a empreendedora teve o despreparo dos vendedores deste ramo. “Eles me faziam cheirar e lamber coisas que eu nem sabia o que estava cheirando e lambendo”, observou. Por isso, na Dona Coelha, Natali faz questão de investir no relacionamento com o cliente. Pergunta se a pessoa namora, se já usou produtos eróticos e tem a proatividade de explicar a função de todos os produtos da loja. “Quero que a pessoa saia satisfeita, que compre o que elas realmente gostam. Não adianta comprar um monte de coisa e depois que chegar em casa, jogar tudo na gaveta, pois ela nem sabe usar”, observa.
Diferencial
A empreendedora conta ainda que, ainda que o tíquete médio varia entre R$ 200 e R$ 300, ela não se importa de aplicar a mesma dedicação e qualidade de atendimento a clientes que comprem óleos de R$ 15 ou mesmo se dedicar a ensinar os que não comprem nada. “Quero que os clientes se sintam à vontade, pois quando eles quiserem comprar algo, vão lembrar de mim”, ensina.
Outro grande diferencial da empreendedora: ela não perde uma oportunidade. Em qualquer brecha, ela já começa a falar dos produtos. E também carrega sempre alguns produtos na bolsa e chega a oferecê-los aonde vai, até em churrascos com os amigos.
Mesmo com tanta descontração e comunicação, ainda assim Natali enfrenta alguns desafios no seu empreendimento. O primeiro deles é a resistência e o preconceito que sofre por trabalhar com produtos eróticos. “Tem muitos homens machistas que não me veem como profissional. Perguntam se faço parte do pacote de produtos, pedem meu telefone. Uma vez, pedimos comida aqui no escritório e o entregador entrou na loja. Não temos nenhum produto exposto nas paredes, mas quando ele se deparou com os vibradores na prateleira, travou. Pela cara de susto, parecia que os vibradores iam pular em cima dele”, comenta.
Planejamento
Para quem quer ter o próprio negócio, Natali recomenda planejamento antes de tudo. “Fiquei um ano guardando dinheiro, pois se não desse certo, sabia que continuaria tendo contas para pagar”, aconselha a empreendedora, que hoje sonha que a Dona Coelha tenha muitos funcionários e com um mundo em que se possa falar mais sobre sexo.