O Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo: a cada 48 horas, uma pessoa é morta simplesmente por ter uma identidade de gênero diferente de masculino e feminino. Por isso, em 29 de janeiro é comemorado o Dia Nacional da Visibilidade Trans, data que marca reivindicações, luta e caminhadas em prol do direito de ser quem é. E não, ao contrário do que muita gente acha, a transexualidade não é uma doença.
Além do respeito, transexuais também têm uma série de demandas específicas e que muitas vezes são ignoradas pelo mercado. Foi uma dessas demandas que fez com que Silvana Trucss visse uma oportunidade de criar seu negócio.
Nascida na zona leste de São Paulo, Silvana vem de uma família simples, tanto que sempre estudou em escolas públicas e começou a trabalhar com educação infantil para ajudar nas despesas de casa. Mas dificuldades financeiras fizeram com que ela mudasse de área. “Cursei Técnico em Hemoterapia no Senac. Me formei em 2008 e logo assumi meu primeiro plantão”, lembra.
Calçando outros sapatos
Trabalhando em hospitais particulares, Silvana costumava conversar com pacientes pré e pós-operatório. E foi aí que ela percebeu que mulheres transexuais e travestis apresentavam sérios problemas urinários, visto que para serem aceitas socialmente, muitas “aquendam a neca”(escondem o órgão sexual) usando fitas adesivas, colas de alta fixação ou esparadrapos. Por conta deste trabalho, muitas ficam muitas horas e até dias sem usar o banheiro – o que sobrecarrega a bexiga e pode fazer até com que ela estoure.
A partir do meu conhecimento, Silvana desenvolveu uma calcinha em formato de funil, em que as clientes acomodam e escondem o órgão sexual sem precisar de aparatos adesivos.
Holofote
Atualmente a empreendedora vende cerca de 200 peças por mês pelo Whatsapp. Mesmo assim, uma das suas principais dificuldades é ter capital para investir em marketing e aumentar ainda mais o público. Por isso, ela chegou até a participar de um programa de TV em busca de um investimento. “Não consegui um investidor, mas a visibilidade contou muito. Não é à toa que estou falando com você e os contatos que consegui são mais valiosos que o valor do investimento que pedi”, observa.
Silvana conta ainda que recebeu diversas dicas de especialistas em negócios e que está seguindo todas à arrisca.
A empreendedora falou também que a vantagem de entender é saber que está ajudando pessoas há décadas esquecidas pela sociedade. “Sou uma pessoa negra e pobre da Zona Leste que poderá alcançar o mundo ajudando a família LGBTQI +”, orgulha-se.
Mais que alcançar o mundo, Silvana sonha também em aposentar os aparatos atualmente usados por travestis e transexuais. “Quero que fita adesiva, colas e esparadrapos utilizados para aquendar não passem de lendas urbanas”, finaliza.