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Básica, mas com muita pimenta: a história da arretada Janda Araújo

Empreender é um sonho que está na veia de grande parte da população brasileira. E o aumento do desemprego, resultado da crise político-econômica, tem acelerado a realização deste sonho. Abonados pelo fundo de garantia, desempregados tornam-se donos do próprio negócio: 4 em cada 10 brasileiros são empreendedores, índice que é mais alto registrado nos últimos 14 anos.

Mas Janda Araújo nunca fez parte desta estatística. Executiva em grandes grupos empresariais, desde 2013 ela e a atual sócia, Viviane Nusman, já planejavam um plano B na carreira.  “Os filhos já estão criados, já são adultos. Percorremos uma carreira no mercado e hoje nos sentimos confortáveis para não passar mais por isso. O nível de trabalhar em grandes empresas é exorbitante e chega uma hora em que devemos priorizar a saúde”, conta Janda.

Foi assim que nasceu a Básica com Pimenta, loja voltada para atender os diversos papéis da mulher. Mas engana-se quem pensa que o processo foi simples. Durante dois anos, empreendedoras pesquisaram, fizeram cursos, prospecção de que mercado iam se inserir. “O óbvio a gente já tinha, que é saber como se compra e como se vende. Parece pouco, mas varejo é isso”, resume Janda.

Mulher de raça e de sorte

Muitas vezes o término de um relacionamento causa grandes mudanças. Com Janda foi assim. Com as duas filhas pequenas, trocou a Bahia pelo Rio de Janeiro para recomeçar. “A vida que eu levava não batia com os meus sonhos. E eu sempre fui dona da minha vida”, lembra.

No entanto, ela morava em um quartinho nos fundos na casa de familiares e, para investir na segunda formação – ela é graduada em Marketing – e pagar as contas, começou a vender salgados no trem e na porta de uma faculdade. “Conheci um executivo de Marketing do Grupo Pão de Açúcar e ele me convidou para trabalhar com ele, porque achava interessante a minha forma de vender coxinha. Ralei muito na vida, mas fui sortuda, porque apareceram pessoas muito legais no meu caminho.”

Foi num processo de coaching enquanto ainda era executiva que Janda percebeu que empreender fazia parte dos planos. E, para realizá-lo, ninguém melhor do que Viviane Nusman, com quem trabalha em cargos diferentes, mas nas mesmas empresas desde 1999. “Até para sócio temos de ter critérios, porque sociedade é quase como um casamento. E já sabemos construir necessidades, por isso estamos no comércio. Como loja física tem muitos custos, fomos para o e-commerce, porque eu já tinha esta experiência”, continua Janda, que antes de apostar no próprio negócio foi transferida para São Paulo.

Mulher plena

Uma das principais atuações da Básica com Pimenta é a venda de produtos sensuais. “Todo mundo fala de sexo em algum momento. Então por que não? A mulher desempenha vários papéis ao longo do dia e da vida. Ela é mãe, namorada, filha, amiga. Mas tem o momento que é o de ser mulher”, defende a empreendedora.

Um dos principais cuidados, porém, é tratar a atuação da Básica com Pimenta – que também comercializa acessórios, semijoias, roupas e moda fitness – sempre levando para o lado sensual, já que, segundo Janda, 90% das mulheres não se identificam com o erotismo. “Mas procuramos trabalhar o lado feminino que tem se perdido, porque muitas mulheres esquecem o quão importante é lidar com a própria sexualidade, de se cuidar, da autoestima. Conheço grandes executivas, grandes empresárias que vivem relações abusivas no dia a dia, se submetem, aceitam migalhas, mulheres que nunca sentiram orgasmo. Acreditamos na plenitude feminina, que antes de ser mãe, empresária, executiva, ela é mulher, que precisa se conhecer e se cuidar”, conclui.

Camila Bez

Jornalista especialista em contar histórias de superação. Feminista, sonha em criar um mundo mais igualitário e justo para as mulheres por meio da informação e do empoderamento econômico.

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