Engana-se quem pensa que confeitaria é “só um bolinho”. De acordo com levantamento da Associação Nacional da Indústria da Panificação e Confeitaria (Abip), o setor fatura R$ 90 bilhões por ano, movimenta 2,2% do Produto Interno Bruto (PIB) e emprega mais de dois milhões de pessoas. E é neste contexto que está Sônia Maria Napoleão Ramos, mais conhecida como Vó Sônia, criadora da Casa de Bolos, rede de franquias que somou R$ 210 milhões de faturamento em 2018.
Hoje aos 73 anos, a Sônia de Ribeirão Preto conta que sempre teve veia empreendedora, tanto que, ao lado do marido, já investiu em diferentes empreitadas, como açougue, estamparia e até uma confecção de roupas esportivas.
Mas a Casa de Bolos nasceu de uma forma diferente. Sônia já estava aposentada e dedicava-se apenas aos cuidados dos pais quando, em 2009, o filho Rafael foi demitido. Para gerar renda, ela então decidiu transformar o que já era uma tradição da família em negócio, visto que a empreendedora já produzia bolos para eventos como forma de complementar renda.
Além disso, o bolo sempre foi tradição na família Ramos, que se reunia ao redor da mesa para apreciar o doce. Este, aliás, é o grande diferencial do negócio: o de resgatar a memória afetiva dos clientes. “Acho, particularmente, que a grande e positiva receptividade do negócio tem a ver com o quanto um bolo simples, caseiro e feito na hora nos remete às boas lembranças da vida. Era hábito, em muitas famílias, as avós fazerem bolos para os netos, quando eles iam visitá-las. Hoje, com a rotina de trabalho e afazeres domésticos, muitas vezes não sobra tempo para esse carinho. Suprimos, de certa forma, essa lacuna”, comenta a matriarca do negócio.
Boca a boca
Junto com os quatro filhos, Sônia teve a ideia de alugar um ponto comercial no centro de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, a fim de profissionalizar o negócio. Enquanto ela tomava conta da loja e produzia os bolos, Rafael distribuía panfletos e divulgava a novidade em cruzamentos e pontos de ônibus.
A estratégia de divulgação deu tão certo que, logo nos primeiros meses, a produção diária já não era suficiente para atender toda a demanda. “No fim do dia, e com todos os bolos vendidos, já nos preparávamos para fazer a produção no dia seguinte”, continua.
Assim, Sônia aumentou o número de bolos produzidos dia após dia, até decidir dar um novo passo na expansão da Casa de Bolos.
Franquias
Em 2011, a família Ramos percebeu que podia inovar, tanto no cardápio, quanto no modelo de negócio. Assim, a marca foi uma das primeiras a apostar no bolo caseiro de pote e também decidiu expandir a empresa por meio de franquias. Atualmente são 350 lojas abertas em diversas cidades do País.
Para chegar a este nível de negócio, Vó Sônia investiu R$ R$ 125 mil. O resultado do investimento foi a criação da rede que agora soma 220 franqueados, cinco mil empregos indiretos e a realização de um propósito. “Hoje posso levar diariamente a diversas famílias bolos caseiros de verdade, sem massa pronta e feitos como se faz em casa: com fruta de verdade, sem aromatizantes ou corantes, tudo feito com muito carinho, assim como sempre fiz a meus filhos.”
E, claro, enfrentou uma série de desafios para consolidar o negócio familiar. “No início, como todo negócio, alguns chegaram a desconfiar do potencial do bolo caseiro e da possibilidade de produção em grande escala. Já foi um desafio manter nossos bolos a mesma qualidade e carinho que eu fazia em casa”, admite.
Cliente no centro do relacionamento
Além de proporcionar a memória afetiva do “bolo da vó”, Sônia conta que outro ponto chave da Casa de Bolos é ouvir de verdade os consumidores e entender desejos e necessidades. “O Brasil possui uma extensão territorial muito grande e com práticas alimentares distintas. Desta forma, é sempre importante conhecer as culturas e filtrar o que se adequa ao nosso negócio. Um exemplo é o caso das cucas, famosas na região sul, mas que logo passaram a serem vendidas em todo o país. Outro exemplo bem definido foi o bolo de iogurte, muito pedido pelos clientes e que hoje é sucesso na rede”, exemplifica.
Então, para quem também quer voar alto no mundo dos negócios, Sônia recomenda sempre ter em mente o porquê de realizar aquela atividade e esforço diário. “Com estes ingredientes, não haverá nada que poderá desencorajar na busca de seus objetivos. A Casa de Bolos, por exemplo, é um sonho que se realizou e foi preciso muito trabalho e perseverança para ter sucesso.”
Sônia conta que já vive o próprio sonho, mas se prepara para aumentar ainda mais a presença da Casa de Bolos no País. Até o final de 2020, ela almeja atingir a marca de 400 franquias e também expandir para regiões em que a empresa ainda não está presente, como Nordeste e Sul. “Queremos entrar em regiões carentes de bolos caseiros, proporcionando a experiência do simples e familiar, com qualidade, variedade e preço justo, atendendo assim aos mais diversos paladares e bolsos”, conclui.
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