Para Ketty Valêncio, dona da Livraria Africanidades, seu negócio não é apenas uma questão de marketing ou mercado, mas sim ativismo político. Formada em Biblioteconomia, a empreendedora de 33 anos conta que, depois de trabalhar sete anos em bibliotecas, ela decidiu investir no próprio negócio com um recorte até então inédito: o protagonismo da mulher negra no mundo literário.
“Sentia uma angústia por ser uma mulher negra. Na escola não aprendemos a literatura negra de homens ou mulheres. Na faculdade também não. E a literatura reporta ainda mais a realidade que não aprendemos e colocamos a menina como protagonista da própria história ao ser uma criadora”, resume Ketty.
De família negra, Ketty só se deparou com o racismo quando foi à escola – crime que, conta ela, infelizmente a perseguiu ao longo de toda a vida acadêmica. “Sentia que, na faculdade, o local não é para nós, negros. Somos proibidos de entrar. Tive até um professor que disse que eu não deveria estar ali, pois deveria ser passista [de escola de samba]”, lembra.
Para desconstruir paradigmas e preconceitos, Ketty investe na educação e na conversa. Assim, além da loja virtual – que lançou em 2014 nesta plataforma por ser mais viável-, Ketty também participa de eventos itinerantes para divulgar as obras e trocar experiências aos finais de semana. Assim, ela vende cerca de 50 livros por mês, além de participar da produção de eventos, apresentações, editais, entre outros. “Agora a questão é de melhorar cada vez mais. Penso em ter uma loja física, um local maior que eu possa agregar outras linguagens.”
Com a Livraria Africanidades, Ketty participa ainda do Mercado Negra, que reúne pequenas empreendedoras para que elas possam vender produtos e ainda se capacitar ainda mais no empreendedorismo. “Trabalhamos a questão da autonomia. Gerar renda é crucial na vida delas, para a família. Também trabalhamos a autoestima, para que ela possa vender ainda mais”, finaliza.