Artesanato Entrevistas

Conheça Izy Vigato, da Arte em Potes

Todos os anos, 80 milhões de toneladas de lixo são produzidas no Brasil, lixo este que parte vai parar no oceano e está contribuindo com um problema ambiental de escala global. O volume de lixo nos oceanos é tão grande que até novos ecossistemas estão se formando. 

O que muita gente ignora é que este “lixo” pode ser uma significativa fonte de renda para quem souber reaproveitá-lo. É o caso da Izy Vigato, que consegue ganhar entre R$ 3 mil e R$ 5 mil por mês vendendo potes de vidro que seriam descartados. 

Nascida em Paraguaçu, a 319 quilômetros da capital Belo Horizonte, Izy sempre teve um pé no artesanato, por influência da avó. “Artesanato esteve presente na minha vida a vida toda. Minha avó fazia costura, alfaiataria, pintava pecido, crochê, bordado. Mesmo naquela época, que não tinha tanto produto e nem a quantidade de coisas descartáveis como tem agora, ela já pensava em reciclagem”, comenta a empreendedora.

Entre os 10 e 14 anos, Izy fazia de tudo para ganhar um dinheirinho: bolsa de fuxico, sabonete presenteável em formato de flor, produtos de enxoval. “Tudo baratinho. Ninguém dava credibilidade para uma criança.”

Aos 16, porém, Izy passou a trabalhar no comércio local a fim de bancar um curso pré-vestibular. Passar em uma universidade federal era a única forma de entrar no ensino superior. “Fiz curso de telecomunicações, entrei no curso de enfermagem e não gostei e depois acabei mudando para Mariana para cuidar da avó doente. Sou a neta mais velha e estava disponível para cuidar dela.” 

Após a morte da avó, ela cursou psicologia, mas devido a uma gestação de alto risco em que tinha de ficar de repouso, Izy teve de deixar os estudos e o trabalho. 

Empreender

Durante a gestação de Izy, o marido teve de trabalhar em casa para cuidar dela. Investiu, então, em uma pizzaria. 

Três meses após o nascimento do primeiro filho, Izy engravidou novamente, mais uma vez uma gestação de risco. Voltar ao mercado de trabalho era possibilidade cada vez mais distante, tendo em vista que ela gastaria praticamente todos o salário para custear as mensalidades de uma escola particular integral ou uma babá. 

A solução para gerar renda foi resgatar o passado e apostar no artesanato. Ela então começou a fazer decoração com eva para chás de bebês, festas de aniversário, porta maternidade, enfeite de quarto de bebê.

Mas Izy percebeu que os trabalhos que fazia com eva eram pouco lucrativos e valorizados pelos clientes, que reclamam frequentemente que os produtos “estavam caros”, mesmo que não fossem. 

A pizzaria da família, no entanto, ia de vento em poupa. E foi de lá que a artesã encontrou o produto que realmente poderia se transformar em um bom negócio: os potes de vidro. 

“Pensei: ‘Meu Deus,  não posso deixar esses potes de tudo que é tamanho ir para o lixo. Dá um mega prejuízo para o meio ambiente’” 

Izy Vigato

Novos caminhos

A decisão de vender os potes decorados foi tomada próxima ao Natal. Izy divulgou os potes nos stories e conta que toda fez que fazia as publicações, mais encomendas apareciam. 

Naquele ano, ela chegou a vender 50 potes e só não lucrou ainda mais porque não tinha mais matéria-prima. “Foi bem por acaso. O artesanato em potes caiu como uma luva e as encomendas não paravam”, conta a artesã.

Crédito: Divulgação
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Hoje, a produção começa às 21h, horário em que os filhos dormem. A demanda de maio a dezembro costuma ser alta, graças à sazonalidade. Em meses de datas comemorativas, a empreendedora mineira chega a faturar R$ 5 mil, valor que até poderia ser maior se ela tivesse uma equipe para produzir e divulgar profissionalmente seus produtos. Mesmo nos meses mais fracos, Izy lucra R$ 3 mil com os potes decorados.

“Conseguiria hoje empregar todas as pessoas da minha família se eles quisessem”, diz Izy, que atualmente mora em Guarapari, no Espírito Santo. 

Diversificação

Uma das grandes dificuldades da empreendedora é o custo com o frete. Um pedido de R$ 70, por exemplo, pode custar R$ 180 para ser entregue. “Pessoas queriam comprar, mas fazer vendas para outros estados mais distantes eu não conseguia efetuar, porque as pessoas não tinham condições de pagar o frete.”

A solução para a Arte em Potes e Cia foi desenvolver uma nova unidade de negócios: a venda de artes impressas e de arquivos para impressão, para que as pessoas pudessem produzir seus próprios potes. 

Para fazer da reciclagem uma boa fonte de renda, Izy recomenda que os interessados apostem em produtos funcionais, como kits para a cozinha, kits de banheiro e higiene, pois são artigos que todo mundo precisa. “Uma estratégia para vender mais é personalizar os tamanhos dos potes, pois esta personalização abre uma possibilidade maior de vendas”, emenda. 

As mulheres que querem empreender neste ramo também precisam ter persistência. Izy conta que todos os empreendedores enfrentam dias difíceis. Mas além de superar o desânimo, é preciso saber valorizar o trabalho e não cair na armadinha de baixar o valor diante dos questionamentos dos clientes.

Por fim, a mineira radicada no Espírito Santo sonha que seus cursos alcancem pessoas em situação de vulnerabilidade ou problemas de saúde mental, pois mais que uma fonte de renda, o artesanato pode servir também como uma ocupação.

“Sonho em poder levar esse trabalho de artesanato cada vez para mais pessoas, ajudar mais pessoas, especialmente mulheres que estão sem rumo, sem saber fazer. Quero ser reconhecida como alguém que, de fato, quer ajudar outras pessoas. Espero fazer com que essas mulheres e mães vivam bem, ganhem bem. Que possam fazer da reciclagem de potes uma profissão e o bem-estar”, conclui Izy. 

Camila Bez

Jornalista especialista em contar histórias de superação. Feminista, sonha em criar um mundo mais igualitário e justo para as mulheres por meio da informação e do empoderamento econômico.

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