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Danielle e Maria: afeto na vida e nos negócios

Apesar do crescimento do feminismo e, com ele, maior sororidade, o consenso ainda é de que as mulheres só não dominaram o mundo (por enquanto) por conta da antiga competição que existe entre nós. A própria Danielle Franco Leon admite que não tem muitas amigas, mas conseguiu contrariar a tradicional disputa entre mães e filhas e encontrou em Maria mais que uma figura materna, mas também a sócia ideal para a Aizó, marca de acessórios que as duas produzem juntas.

Paulistana descendente de nordestinos e bolivianos, Danielle, 34 anos, tem a arte e a costura no sangue, já que a avó era costureira. A empreendedora também cresceu no Brás, bairro tradicionalmente conhecido pela grande presença de confecções. “Sempre tive contato com a arte. Porém sempre tive aquela ideia fixa de que artista não ganha dinheiro e é coisa de vagabundo”, afirma.

Assim, em vez de investir nas áreas de afinidade, ela decidiu cursar administração e trabalhou como office girl e analista comercial em uma indústria por necessidade financeira, para ‘ganhar o pão’, como ela mesma diz.

Ponto de virada

Há três anos, porém, Danielle começou a sentir os efeitos de trabalhar apenas para pagar as contas. “Acabei adoecendo. Tive depressão e percebi que precisava colocar a minha criatividade para fora”, lembra.

As mudanças não se resumiram ao mercado de trabalho. A empreendedora se separou e, junto com a filha de seis anos, voltou a morar com a mãe. “Olhava para minha filha e imaginava por que não fui realizar o meu sonho. Senti uma necessidade grande de ter um negócio com propósito, pois só entregar relatório no final do mês era vazio.”

A ideia de produzir acessórios, como estojos, pochetes e capas para celular, partiu da mãe, Maria, diante da necessidade de complementar renda. Danielle então se envolveu no projeto. “O negócio precisava de método, perfeccionismo. Dizia para a minha mãe que ela tinha de modelar para que as peças saíssem iguais.”

Empolgada com a possibilidade do negócio, Danielle investiu em capacitação no Senai, apostou na qualidade como grande diferencial das peças, abriu um MEI e começou a divulgar o negócio. “Percebi que poderia ter uma renda com auxílio da minha mãe foi aí que nasceu Aizó (que no tupi significa formosa)”, continua.

Crédito: divulgação.

Amor nos processos

Os estojos são laváveis e têm de divisórias reforçadas. Já a pochete tem saída para fone de ouvido e compartimentos para cartões de transporte público. Todos os produtos de Danielle e Maria têm qualidade e inovação como diferencial.


Dani comenta que um das grandes vantagens do negócio foi o fortalecimento da relação por conta do respeito mútuo. Mesmo sendo de gerações diferentes, todas as ideias são levadas em consideração por ambas, já que a proposta da Aizó é ser uma marca caracterizada pelo afeto – não só para os clientes, mas entre elas mesmas, que até fazem pausas na produção para tomar chá juntas.

Para divulgar os produtos, a empreendedora aposta em bazares, ensaios fotográficos para as redes sociais e ainda em eventos. Para a Virada Cultural, que acontecerá na capital paulista no próximo final de semana, Dani planejava produzir capinhas de celular.

Mesmo assim, aumentar o volume de vendas ainda é uma das dificuldades, especialmente por conta da concorrência desleal de produtos importados da China. Dani comenta que os produtos da Aizó são laváveis, resistentes e produzidos com extrema qualidade, desde a escolha dos materiais até a costura. No entanto, o preço baixo faz com que os produtos asiáticos levem vantagem sobre a Aizó – tanto que até fazer consignação com lojas se torna mais difícil. “E tem ocasiões, como bazares, em que o retorno não vem e a gente tem de engolir a frustração e continuar insistindo no negócio”, pontua.

Além de produção, Dani também investe na fotografia como negócio. Assim, ela cobre eventos aos finais de semana e, graças ao contato com vários profissionais, percebeu mais uma demanda de mercado: a produção de mochilas e cases para equipamentos fotográficos – que é o próximo passo de evolução da empresa.

Por fim, mais do que ser um negócio de sucesso, Danielle sonha também em ter um atelier colaborativo, onde as pessoas possam aprender a costurar, gerar renda e compartilhar, de acordo com o afeto intrínseco da Aizó. E sempre, claro, ao lado da mãe, Maria.

Camila Bez

Jornalista especialista em contar histórias de superação. Feminista, sonha em criar um mundo mais igualitário e justo para as mulheres por meio da informação e do empoderamento econômico.

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