Entrevistas

Fabillene Prado trocou a construção civil para ser mãe e empreendedora

Estudar para ter uma profissão e não ficar restrita ao papel de mãe e dona de casa. Este foi o conselho que Fabillene Prado, 35 anos, recebeu da mãe, Josefa. O aconselhamento foi seguido à risca. Inquieta desde pequena, Fabillene conta que sempre buscou um lugar confortável no mundo para ser quem é.

Mas quem era a empreendedora? Uma jovem que tinha como paixão criar e desenhar. Por isso, decidiu investir na construção civil como profissão. ” Fiz Técnico em Edificações de manhã, em paralelo com um curso de Desenhista da Construção Civil à tarde, e com o Ensino Normal durante a noite. Comecei a trabalhar em 2003 na área depois de concluir os cursos, e então, estudei e me graduei em Engenharia Civil, eu e mais 4 mulheres em uma turma de quase 100 homens”, conta.

Em 12 anos de profissão, ela participou de inúmeros projetos. Além de provar sua capacidade a todo momento, por estar em um ambiente majoritariamente masculino, era comum participar de obras com três mil homens – ela também via na longa rotina de trabalho um obstáculo para realizar um dos seus grandes sonhos: o de ser mãe.

Confira nesta entrevista como foi a mudança.

O que a levou para o mundo do empreendedorismo?

Fui realizada na minha carreira de Engenheira Civil até o momento em que eu comecei a sentir vontade de ser mãe, e então, começou aí O MEU DESAFIO DE SER MULHER PROFISSIONAL E MÃE.

Eu sempre quis ter filhos e meu marido já se imagina pai a pelo ao menos uns 2 anos antes, porém, como eu estava trabalhando muito, eu adiei.

Nesse período, eu percorria obras de toda a região sudeste do estado de São Paulo, e quando eu ia para o escritório na Avenida Paulista, eu acordava às 4h da manhã para chegar lá as 7h e saia as 17h para chegar de volta as 20h. Fazia esses horários para fugir do trânsito, e mesmo assim eu tinha apenas 3h diárias para mim, que se resumia em jantar , tomar banho, e ficar um pouco com o marido. Eu vivia mesmo de final de semana, doando todo o meu tempo para a empresa que eu trabalhava.

Nessa rotina onde se encaixaria o meu filho?

Eu só o acompanharia no final de semana e eu queria mais que isso.

Como o meu chamado por família sempre foi algo ardente dentro de mim, e as empresas ainda não estão preparadas para trabalhar com mães, pelo contrário, vi mães sendo testadas ao máximo após a maternidade para ver se realmente elas ainda davam conta do recado, principalmente, nas solicitações extra horário de trabalho, resolvi sair da empresa, começar a empreender e engravidar.

E foi assim, tudo ao mesmo tempo e misturado. Dois filhos. O Afonso e o meu Empreendimento. Ambos demandando tamanha atenção.

Então eu que era acostumada a fazer gestão de projetos, teria que agora dar conta de gerir esses dois. E não foi  fácil.

A maternidade chacoalha nossas estruturas, porque é uma mudança gigante em quem estamos acostumados a ser, e isso acontece em um curtíssimo espaço de tempo. Além dessa confusão de identidade, em ter que lidar com a nossas expectativas e frustações, há a responsabilidade em aprender a cuidar daquela vida que temos nos braços, e encontrar saída para o cansaço que sentimos devido a nova rotina do recém-nascido. E agora José? Como estar também à frente de um novo negócio?

Com organização e rede de apoio. Mas isso não é tão receita de bolo assim.

Quando eu comecei a aplicar gestão de tempo que eu tanto dominava do mundo corporativo, e apenas usar as técnicas na minha gestão pessoal, eu não tive tanto êxito.

Eu pouco andei naquilo que planejei, e era necessário muita disciplina e esforço.

Foi aí que fui estudar mais sobre desenvolvimento pessoal. Eu sabia gerir, mas agora eu precisava entende mais de mim.

E quando eu me organizei e criei minha rede de apoio levando em consideração quem eu era, eu consegui ainda no primeiro ano de vida do Afonso colher bons resultados do meu negócio sobre projetos de construção civil voltado para famílias. O que já supria um pouco daquela minha busca por trabalhar com propósito.

Nessa altura do campeonato, eu havia investido também em cursos para desenvolver o meu negócio que era todo digital, o que me dava muita flexibilidade de tempo e alcance geográfico também. Eu participava de um grupo de mães empreendedoras que também estavam iniciando seus negócios com filhos pequenos em casa, e elas começaram a se interessar em como eu conseguia conciliar tudo. E então, comecei a dividir meus conhecimentos com elas, até uma delas me perguntar porque eu não ensinava isso. Isso fez muito sentido para mim dentro do meu propósito.

Desde então, trabalho com mães empreendedoras, que são também donas de casa, esposas, mulheres com suas necessidades peculiares que desempenham vários papéis todos os dias. Eu faço isso através do programa Mamãe Academy, ajudando-as a equilibrar tudo isso, baseado num caminho de autoconhecimento dessa mãe. Exatamente como foi para mim.

Investi na minha formação de Coach, Praticioner em PNL, Hipnoterapeuta e Aromaterapeuta, e uso todas essas ferramentas para ajudar mais essas mulheres que, assim como eu, faz parte dos 75% das mulheres que decide investir no próprio negócio após a maternidade, segundo estudo.

Quais são as vantagens de empreender? E quais os obstáculos teve de superar? Como os superou?

Muitas mães, inclusive eu, começam a empreender em busca de flexibilidade. Ter maior liberdade para estruturar sua agenda entre trabalho e família. E eu acredito que essa seja mesmo uma grande vantagem. Ser dona da própria agenda.

Porém, devido a tantas demandas se você não consegue se organizar, encontrar o que te serve e te faz entrar no fluxo, ser produtiva, só empreender não é garantia de passar mais tempo com os filhos. Ela pode ter dar mais flexibilidade, mas o nível de trabalho para começar um negócio até ele começar a rodar, é intenso. Junta aí  as outras tarefas, de gerir a casa, ser esposa, e se cuidar, pronto, as chances é de o tiro sair pela culatra e essa mãe ficar presa numa rotina exaustiva e com muito pouco resultado são grandes.

 Essa foi a minha maior dificuldade, conciliar tudo de forma equilibrada. E consegui depois que me organizei a partir daquilo que faz sentido para mim e respeita minha individualidade.

Outra vantagem é que através de um negócio, você tem a chance de reconsiderar os sonhos que deixamos para trás ao escolher por uma carreira dita “mais segura e rentável”.  Então, quando você abre um negócio, você tem mais chances de entregar os seus talentos, as suas habilidades, aquilo que você gosta de fazer, num produto que vai ajudar o próximo que precisa do que você tem a oferecer. É o propósito, que pode estar em outros tipos de carreira, mas aqui, tem maiores probabilidades de te fazer trabalhar se divertindo, e então, confundir lazer com trabalho e vice-versa.

Outro ponto forte é não ter limite de ganhos. Quanto mais você produz no seu próprio negócio, mais pessoas você impacta com seu trabalho e, consequentemente, mais você recebe de volta. Um espiral virtuoso. Toda vez que consegue expandir e ajudar mais pessoas, ter um negócio produtivo, mais você aumenta seu faturamento.

Você é coach de alta performance. O que é, no seu entendimento, ser uma pessoa de alta performance?

Para mim uma pessoa  de alta performance é uma pessoa equilibrada, e que por isso, consegue entregar a sua melhor versão para o mundo e alcançar os resultados almejados.

É difícil você manter-se produtiva se está cansada fisicamente sem disposição e saúde.

É difícil você ter foco e um bom desempenho se sua cabeça não para de pensar nas inúmeras tarefas que você tem a executar.

É difícil você estar totalmente presente para o que está fazendo se carrega uma preocupação que te angustia.

E é difícil uma pessoa que não tenha nenhum desses e de outros problemas em seu dia. Principalmente nós mães com nossas rotinas cansativas. A grande questão é em como lidamos com essas situações. Se conseguimos nos perceber e lançar mão de recursos que vão nos apoiar nesses momentos, ou não, se vamos assim mesmo, nos arrastando e então fazer um resultado custar muito, custar a nossa tranquilidade.

Alta Performance depende do quanto sua rotina está organizada para te dar esse apoio físico, mental e emocional. Depende do quanto de qualidade de vida você vive hoje na sua vida.

Existem duas questões aqui, a primeira delas são os padrões únicos de cada uma, aquele jeitão que cada uma lida com os acontecimentos. A segunda questão é o quanto estamos no automático, o quanto vamos reagindo as coisas sem perceber, em vez de responder com consciência.

A primeira questão é uma peculiaridade individual, são os padrões criados a partir do modo que a nossa consciência interpreta, escolhe e interage com os acontecimentos. Eles são criados na nossa infância, vão crescendo e se solidificando, e direcionam todas as nossas atuais decisões.

É o que nos faz sentir as mesmas emoções, ter os mesmos pensamentos, e fazer as mesmas coisas. Eles direcionam a nossa qualidade de vida atual e nem percebemos.

A segunda questão é o jeito que nós seres humanos funcionamos, fazer as coisas no automático é um modo de preservação de energia. Se o nosso cérebro tivesse que escolher conscientemente as inúmeras variáveis que acontece em um único dia, desde o pensar sobre abrir os olhos, levantar da cama, ajeitar o lençol, andar até o banheiro, abrir a porta, fechar a porta, abrir a torneira, etc., nós não teríamos energia para chegar ao final do dia. Nós mães nem chegaríamos na hora do almoço, são tantas demandas, que no final do dia já estamos exaustas normalmente e tudo que queremos é não pensar em nada e poder nos jogar em algum lugar macio. Por isso, o cérebro automatiza.

Então é o padrão pessoal e o modo como operamos que guia nossa vida de forma condicionada e normalmente num rumo diferente daquilo que desejamos.

Nas minhas palestras exemplifico com duas perguntas, – “quem quer ser feliz, ter equilíbrio e paz interior, levanta a mão?”-, e normalmente todos levantam a mão. E então faço outra, -“quem aqui já se irritou com a caixa que não é tão rápida como você gostaria?”-, e todo mundo torna a levantar a mão. Normalmente é assim que acontece, nós queremos uma coisa e muitas vezes nossos padrões, muitos deles padrões sociais, nos guiam para caminhos contrários.

Por isso a importância do autoconhecimento para identificar o que do seu padrão te atrapalha de conseguir o que você quer. Porque ter resultados é consequência do ser primeiro. E isso vale também para ser mais produtiva, e como bônus de ser, ganhamos uma qualidade maravilhosa de vida.

E como conciliar carreira com maternidade?

Depois de tudo que disse aqui eu considero 4 etapas fundamentais para conciliar carreira e maternidade:  Autoconhecimento, Organização, Planejamento e Produtividade.

Autoconhecimento – Eu acredito que aqui esteja a chave para você conseguir executar tudo aquilo que planeja, para encontrar a sua alta performance, para encontrar a fluidez necessária para a rotina e, consequentemente, ser produtiva.

É nesse processo que a mãe entende o que vem a seguir que vai lhe atender melhor, quais são as maiores dificuldades que precisam ser trabalhadas para aquilo que ela almeja, quais as suas fortalezas, a sua motivação, um encontro com ela mesmo que vai nortear e facilitar todo o processo que virá depois.

Organização – Avaliar tudo que acontece na rotina atual, e então, ganhar clareza para o que essa mãe executa ao longo de seu dia. A partir daí, reorganizar tudo que for necessário, otimizando tarefas, tirando ou delegando outras, criando apoio, ganhando espaço e criando uma rotina que tenha tudo que traga esse equilíbrio necessário a sua individualidade e apoie as prioridades dessa mãe.

Planejamento – É necessário traçar os objetivos, fazer um plano de ação, definir os caminhos a seguir para concretizar os sonhos e alcançar as metas, tanto profissionais como pessoais.

Saber o que fazer e como fazer com intenção faz muita diferença.

Produtividade – Aqui vem todas as técnicas e as ferramentas de produtividade de acordo com o perfil dessa mãe e que a ajudará a ir masterizando sua performance, criando hábitos que a potencializa, encontrando seu melhor estado como ser integral, e que vai fazê-la conseguir melhorar seu desempenho e tirar seu planos do papel, sem tanto esforço, sem tanto sacrifício, porque tudo aqui foi baseado em como ela funciona, mas principalmente, a partir do realinhamento dos seus próprios padrões para isso fluir melhor.

A partir da sua experiência, conte por que as mulheres têm tanta dificuldade em conciliar estes papeis de mãe e profissional bem sucedida? Neste sentido, quais são os erros mais comuns e quais dicas você pode dar para este público?

O papel de mãe é um papel que nos demanda muito. Criar uma criança é tarefa trabalhosa que nos pede muita doação  em detrimento dessa criação. Crianças têm muitas necessidades para serem atendidas, além das necessidades físicas, como ser alimentada, ser aquecida do frio, ser aliviada da dor, estar limpa, ser colocada para dormir, ter um espaço apropriado para crescerem, existem muitas outras, como ser confortada, sentir-se amada, ser compreendida, acompanhada, protegida, respeitada, corrigida, apoiada, ela precisa explorar, brincar, se divertir, experimentar, aprender. E nós como pais precisamos cuidar de tudo isso, criar vínculo e dar muita atenção, nos entregar.

Da mesma forma é a nossa carreira se queremos nos destacar, é uma tarefa trabalhosa que nos pede muita doação para crescimento, seja ela em uma corporação, ou num negócio próprio.

Os desafios são muitos. Há de prestar serviços diferenciados que agreguem valor, gastar tempo fazendo plano de ação seja de carreira ou negócios, fazer investimentos, buscar capacitação sempre, estabelecer e buscar metas de lucratividade, organizar, otimizar e acompanhar os orçamentos, buscar parceiros e engajar equipes, uma boa pitada de confiança e paciência e muitas outras questões que demandam tempo.

As pessoas que mais sofrem nesse processo de equilíbrio depois da chegada do filho, são as que não se recuperam rápido das expectativas frustradas sobre ter um bebê em casa.

Eu mesma achava que não mudaria muito.

Então o erro mais comum nessa empreitada é tentar levar a vida como antes, e é daí que se começa a viver para apagar fogo e apenas reagir à vida do jeito que ela acontece, como um barco a deriva.

Nesse contexto, o que conseguimos é apenas suprir as necessidades físicas dos nossos filhos e fazer o básico no trabalho. Sem canalizar a energia estamos sempre cansadas, esgotadas mentalmente, sem paciência, e normalmente nos culpando por isso. E então, aquilo que poderia durar 30 minutos dura 2h, começamos a nos distrair a beça e nem percebemos, o cérebro cansado prefere encontrar qualquer saída, assistir TV, mergulhar na mídias, procrastinar, em vez de produzir. A gente vai aceitando então as inúmeras interrupções.

E aí desviamos da rota, e isso tende a piorar o quadro e angustiar, em vez de ajudar.

É fundamental diminuir as expectativas e organiza-se para fazer uma nova redistribuição de tempo e conseguir conciliar os papéis.

Em linhas gerais, criar uma rotina para você e para a criança, planejar as tarefas e inclusive incluir os filhos nelas, criar rede de apoio, e principalmente, se conhecer para poder potencializar a sua produtividade na realização delas.

Camila Bez

Jornalista especialista em contar histórias de superação. Feminista, sonha em criar um mundo mais igualitário e justo para as mulheres por meio da informação e do empoderamento econômico.

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