Entrevistas

Virgínia luz: do desemprego na gravidez ao empreendedorismo

Gravidez é um dos momentos mais importantes da vida da mulher que sonha em ser mãe. Porém, para muitas, o sonho vira desamparo, pois ainda é comum no mercado que as novas mães sejam dispensados do trabalho no final da gestação ou após o término da licença maternidade.

Foi o que aconteceu com Virgínia Luz. Quando seu filho completou três meses, ela tentou se recolocar no mercado, mas sem sucesso – já que muitas empresas recusam mulheres com filhos pequenos, sob a justificativa que estas mães faltam muito. E foi assim que nasceu a Vital Cocriando Sonhos – empresa de desenvolvimento de iniciativas sociais, em que Virgínia coloca toda sua experiência adquirida em anos de trabalhos em ONGs.

Psicóloga com especialização em Arteterapia, Virgínia conta como foi como superou o desemprego e dá detalhes do processo de desenvolvimento e consolidação do seu negócio pronto. Confira a entrevista na íntegra:

Voa, Maria: Quem é a Virgínia? Como você se descreve?

Virgínia: Sou sagitariana, portanto, tenho personalidade forte e sou muito idealizadora. Amo artes e os animais, especialmente, os felinos. Adoro a lua e o mar, pois me identifico com este constante processo de mutação e renovação. Estou sempre em busca de desenvolvimento pessoal e acredito na potência das pessoas para transformarem o mundo. E sou mãe do bebê mais sorridente do pedaço!

VM: Quais empregos, experiências teve antes de decidir empreender?

Virgínia: Tenho 14 anos de experiência no terceiro setor, com trajetória profissional em programas de extensão universitária, cooperativas, ONGs,  área de responsabilidade social empresarial e administração pública. Já trabalhei com gestão organizacional, planejamento estratégico, gestão de equipes interdisciplinares, elaboração e gestão de projetos sociais, elaboração de diagnósticos, produção de relatórios de resultados e mobilização de recursos.

VM: Por que decidiu empreender?

Virgínia: Quando engravidei estava trabalhando numa ONG, ministrando um curso de gestão para outras ONGs. Apesar das promessas de licença-maternidade, fui demitida no final da gestação. Quando meu filho estava com 3 meses comecei a buscar nova colocação no mercado. Porém, com este cenário político e econômico que estamos vivendo, estava sendo muito difícil conseguir uma oportunidade que suprisse meus custos de vida no terceiro setor. As dificuldades financeiras começaram bater à porta e então, decidi investir meu tempo e energia em um empreendimento.  

VM: Qual é a sua empresa e quais são os diferenciais dos seus produtos e/ ou serviços?

Virgínia: Sou cofundadora da Vital Cocriando Sonhos. Tenho como propósito desenvolver novos caminhos para que pessoas e iniciativas sociais concretizem sonhos, além de possibilitar que pioneiros (empreendedores) e líderes (gestores) se sintam seguros para promover transformações organizacionais. Acreditamos na potência da inteligência coletiva, no impacto de processos de cocriação, na urgência do diálogo e no poder da mesa redonda. A Vital oferece cursos, oficinas e consultorias e nosso diferencial está nas metodologias utilizadas, que priorizam a colaboração, a cocriação e podem ser criadas/customizadas de acordo com a demanda do nosso cliente, mas sempre levando em consideração a inteligência coletiva, que aumenta as chances de gerar inovação, contribui para o envolvimento e motivação da equipe, gera resultados rápidos e reduz custos.

VM: Como se preparou para investir no seu próprio negócio?

Virgínia: Eu planejei muito, coloquei tudo no papel e conversei com muitas pessoas próximas e que são empreendedores ou trabalham em ONGs para saber se lhes interessaria a proposta, se fariam as oficinas e cursos. Perguntei que tipo de consultoria sentiam necessidade. Enfim, fiz uma mini pesquisa de mercado e colhi sugestões e ideias. Além disso, coloquei em prática tudo que eu aprendi nos últimos anos trabalhando em áreas de gestão e dando aula sobre o tema. Recentemente, fiz um curso sobre Negócios Sociais, com o objetivo de aprender algumas ferramentas importantes de planejamento de um negócio.

VM: Quais vantagens o empreendedorismo oferece?

Virgínia: Pra mim, a principal vantagem é eliminar o “atravessador”. Ou seja, eu vendia minha mão de obra para uma ONG, que vendia meu projeto para um patrocinador por XXX reais e me pagava X para executá-lo. Agora eu mesma vendo e recebo o valor que ele vale. Outra grande vantagem pra mim é poder ser dona da minha própria agenda. Eu sempre fui uma pessoa que produziu muito melhor à noite e durante a madrugada, do que de manhã. Mas sempre fui obrigada a trabalhar de manhã, cumprir horário e tal. Hoje, se eu quero inverter, trocar o dia pela noite, eu troco. Se eu quero aproveitar a tarde de sol para passear com meu filho no parque e produzir um conteúdo ou fazer uma reunião por Skype depois que ele dorme, eu posso. Não preciso pedir autorização pra ninguém e ninguém me olha feio por isso.

VM: Como sua vida mudou desde que decidiu empreender?

Virgínia: Estou mais pobre! Por enquanto ainda não tenho o retorno financeiro pretendido, iniciei minhas atividades no final de julho. Meu empreendimento ainda é muito recente. Mas já percebo que ganhei em qualidade de vida e hoje tenho muito mais motivação para trabalhar e para fazer as partes chatas/burocráticas do trabalho. Me sinto mais revigorada, energizada, porque sei que estou investindo dinheiro, tempo, energia em algo que me satisfaz, me empolga e que é meu.

VM: Quais são os desafios para consolidar o seu negócio?

Virgínia: O principal desafio é conquistar clientes e fazer com que eles indiquem a Vital para seus parceiros. Queremos contribuir para que pessoas realizem seus sonhos de projetos e empreendimentos, mas sabemos que muitas vezes as pessoas não possuem um capital inicial para investir e acabam fazendo de maneira amadora e/ou sem muitos recursos. É um desafio convencer as pessoas de que este investimento pode ser relevante e gerar impactos positivos no futuro. Precisamos aprimorar nossa comunicação neste sentido e criar alguns produtos fixos, que sejam nossos carros chefes, para que as pessoas entendam de maneira concreta o que fazemos.

VM: Qual foi o seu capital inicial e como conseguiu levantá-lo?

Virgínia: Até o momento, meu único investimento financeiro foi a impressão do cartão de visitas. R$30 que tirei do meu orçamento pessoal. Estamos fazendo muitas coisas na base da troca ainda, por exemplo, trocamos o aluguel do espaço para uma oficina por vagas para a organização que oferta o espaço. E assim estamos construindo! Precisamos valorizar economia colaborativa! Muitas vezes estamos em um contexto de abundância de recursos e não percebemos porque só focamos no dinheiro. O dinheiro não precisa ser nossa única moeda de troca 😉

VM: Quais dicas daria às outras mulheres que sonham em ter o próprio negócio?

Virgínia: Eu e minha sócia falávamos em ter nosso negócio para não depender de terceiros e fazer as coisas do nosso jeito há um ano! Muitos almoços e cafés sonhando, idealizando. Nunca saía do mundo das ideias. Até o dia que resolvemos sentar e anotar tudo. Tudo que a gente queria realizar, como a gente queria que fosse, sem filtro, sem julgamento. Aos poucos as coisas foram tomando forma e aí levamos menos de um mês para lançar a Vital! Colocar no papel fez toda diferença, é como se mobilizasse uma energia de renovação. E essa foi a primeira oficina que lançamos “Da cabeça para o papel”, cujo objetivo é apoiar pessoas que tenham um sonho a colocá-lo no papel e fazer um planejamento. Planejamento é fundamental para evitar desgaste, falhas e prejuízos.

VM: Qual é o seu sonho?

Virgínia: Eu sonhos em poder transformar o mundo através do meu negócio, apoiando pessoas a promoverem transformações importantes que gerem resultados e impactos sociais. Sonho com uma sociedade mais justa e igualitária.

Camila Bez

Jornalista especialista em contar histórias de superação. Feminista, sonha em criar um mundo mais igualitário e justo para as mulheres por meio da informação e do empoderamento econômico.

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